domingo, 18 de novembro de 2012

Universidade.... Take #2, Ação!

As férias de verão passaram e comecei de novo a minha labuta... Casa-Lisboa-Casa. Apanhava sempre barcos diferentes, autocarros diferentes e os cinco dias da semana nunca eram iguais. Havia sempre algo para fazer de diferente, ou mais um papel, ou mais uma hora de condução, ou mais um sorriso e um beijo.
Como de costume, ouvia sempre que precisava de descansar e bla bla bla, mas pouco ligava e, mais uma vez, as minhas famosas olheiras escuras, fundas e negras voltaram a aparecer - como eu já esperava, mas sentia-me bem.

Após ser aprovado no exame de condução, numa sexta-feira, não podia ficar mais radioso: fui para o Zoo comer e pensar no futuro, nas perspetivas de como é que eu poderia vir a ser um bom condutor, cumprindo a maioria das regras que me foram ensinadas nas aulas: cá fora é tudo diferente; já não temos o instrutor que no último instante pode colocar o pé no travão e impedir um choque ou uma infração - somos nós apenas por nós próprios.

Expectável era o início do novo ano da faculdade e isso iria incluir novos colegas, novas chatices e novos desafios. Eu sempre gostei disto: desafios. A vida para mim sem desafios não é, de forma nenhuma prática. Preciso de me sentir bem, desafiado constantemente (mas não num estado extremo) para que possa reagir e possa pensar e fazer sempre mais e melhor - não, eu não sei parar.... até um dia em que não poderei respirar.

Particularmente passaram as habituais praxes e chega a solene noite de batismo. Sabia de ante-mão que seria padrinho de dois novos alunos - mas não sabia como deveria reagir perante eles: de forma igual, de forma austera e radical, ou numa de "tasse bem meu". Tentei ser eu próprio para ambos, dando indicações para que eles pudessem brilhar de forma mais cintilante e forte do que eu. Fiquei assim de consciência tranquila. Os miúdos eram inteligentes, tinham as indicações, os materiais e eu agora podia mostrar realmente que eu estava do lado deles: que era aluno também!

Aqui há a ter em conta que me liguei muito mais à minha afilhada do que ao meu afilhado. E é precisamente sobre ela (a quem dedico esta pequena grafia em Língua Portueguesa) que vos falo aqui...

Quando a vi pela primeira vez, já como pseudo-afilhada, ela era pequenina, de olhos brilhantes na  noite escura de Lisboa. Pareceu-me ansiosa por entregar a carta que me tinha escrito horas antes.... E eu, sem ela perceber, estava radioso porque alguém que eu mal conhecia tinha-me dado um voto de confiança.

Depois de ela ter levado com água bem colorida por cima da cabeça e partes da coluna vertebral, despedi-me e disse-lhe: "sempre que precisares, vem falar comigo!".

O tempo ia passando e as fases de acesso ao Ensino Superior  mostravam que a minha afilhada não deixava de se candidatar para outro curso da nossa Universidade. Na última, a terceira, fazendo valer o velho ditado "Há terceira é de vez", a pequena senhora conseguiu entrar no tal curso que ela tanto ambicionava. Nessa altura, já ela levava a lição bem estudada e ouvida várias vezes da minha parte: "Meus meninos, eu sou o vosso responsável. Qualquer chatice que fizerem sou eu que vou responder por vocês! Mas, por outro lado, sempre que precisarem de qualquer coisa, e mesmo qualquer coisa, ir às compras, comprar preservativos, pílulas, lingerie, ou apenas companhia podem ligar, mandar mensagem ou mail 24 sobre 24 horas, 7 dias por semana, 365(6) dias por ano!".

Semana após semana apercebi-me que a minha própria afilhada trazia um grande desafio para mim: uma amizade tão bela e cuidada, uma confiança tão grande e aberta, um valor inexplicável: eu senti-me padrinho, amigo e colega! Tudo ao mesmo tempo.... 

Se eu não gostasse dela já o caso era outro, mas como eu não digo não a nenhum desafio, não deito fora nenhuma amizade sem motivos válidos e ainda não tinha descobrido a razão pela qual ela tinha entrado na minha vida, fui-me tentando aproximar aos poucos - fazendo sentir em mim o que já havia sentido antes, uns anos atrás quando entrei numa escola nova em que pouca gente conhecia.

Fui-me apercebendo que eu e ela tínhamos imenso em comum... E pensei, isto vai correr mal (em tom de gozo)... Mas não correu, nem corre. As amizades devem ser estanques e o facto que impera numa é a confiança, a racionalidade e sentimentalidade doseadas e aqui havia isso!

Até hoje, semanas passadas, por muito que eu queria por um dia que seja dizer: "Não, não vou chatear a minha afilhada amiga"... Dou por mim mais tarde a mandar-lhe mensagem ou a meter conversa com ela nas redes sociais! Que chato que eu sou.... Enfim.... Mistérios da vida a razão pela qual sentimos esta necessidade de contacto... Se calhar por proteção das relações não sei....

Mas uma coisa eu tenho certa... se não fosse ela, as minhas últimas semanas não tinham sido bem dispostas, porque uma pequena, madura e robusta senhora fez-me pensar e voltar a abrir as portas para o que é a amizade e a valentia das relações interpessoais, simplesmente.... sentir e depois pensar! E sim.... os padrinhos devem dar beijinhos na testa aos afilhados - se não, quem cuidava deles?!

2 comentários:

  1. Os beijinhos nas testas dos afilhados são o meu maior sinal de respeito, amizade e agradecimento por eles... São mais do que afilhados, são amigos. E isso é uma das coisas que mais me alegra nesta vida académica :)

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    1. Se é!!! A certa altura tornamos afilhados tão amigos do peito que as coisas ficam tão quentes e correm mal.... ou então somos corretos com eles e ao darmos um biejinho na testa é como víssemos que lhe passamos conhecimento! É algo tão especial (apesar de menos do que dar esses beijos a quem amamos!!)

      A minha académica vida já se foi, infelizmente! Enfim... é assim o crescimento humano!

      Tenho de ir ver o teu blog.... penso que haverá surpresas :) !!! Fico à espera de mais algum comentário que queiras fazer por aqui!

      PS: Admito que já te tentei procurar nas redes sociais, mas foi um total falhanço de pesquisa!

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