terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Pirâmide da Amizade

Estava ele junto ao mar, com boné escuro e com umas roupas esfarrapadas. O dia estava horrível: vento fortíssimo, chuva “certinha” e uma bela e valente trovoada audível a quilómetros de distância. Já toda a gente tinha saído da praia.

As pessoas começaram a desabelhar cedo, não só pelo tempo, mas também por causa do desporto que dava na televisão e, aliás, como se estava perto do fim do mês era necessário arrumar tudo para se voltar à mesma rotina do resto do ano (levanta, trabalho, come, trabalho, come, dorme)!

Não obstante, aquele rapaz continuava ali, já com uma toalha que estava embrulhada no seu corpo, que tinha sido dada por um turista que teve pena dele. E eu, da minha janela a vê-lo; no quentinho da minha casa, já de banho tomado e vestido a roupa “normal” de cidade a olhar para aquela pessoa, a única naquela vasta areia esbranquiçada.

Tinha de fazer algo! Não consegui manter-me a ver uma pessoa ao longe, que parecia ser da minha idade, ali, naquele pedaço de areia que piso todos os dias de férias, e fiz à estrada (como quem diz… Fui à praia). Ia com o pensamento de que pouco ou nada conseguiria fazer para levar aquele rapaz dali, mas quando cheguei perto dele, tudo mudou:

Ele não era um ele, mas sim uma rapariga;

Ele não era um desconhecido, mas sim uma amiga;

Ele não era um “tomba lobos”, era bem ricalhaça.

Sentei-me ao lado esquerdo dela e perguntei, como fazia sempre… Maria, que se passa? E ela responde:

- Tive uma ideia e precisava de olhar para o mar para pensar nela. Não consigo sair daqui. As lágrimas do silêncio são pesadas de mais para eu poder ter vontade de sair deste sítio bonito, mas que agora está carregado de cinza, com um mar revoltado e com uma areia que nem parece a habitual, por causa da chuva.

Eu abracei-a e fiquei quieto. Engoli o que ela disse em seco e dois ou três minutos depois perguntei-lhe qual era a brilhante ideia dela. “Sem fus nem fás” a rapariga contou-me o que tinha pensado: A pirâmide da amizade.

Entusiasmado como de costume, perguntei eu:

- O que é isso; Explica-me! Sabes bem como sou eu com novas ideias!

Ela mostrou-me ao lado um desenho igual àquele que está ao lado direito da página. E eu pus-me a imaginar todas as minhas relações de “amizade” e de amizade verdadeira que tinha.

O lugar mais baixo era o de “Amigos do Facebook”. Quando eu falei num tom mais alto ao ler “Amigos do Facebook”, Maria voltou-se e começou-me a explicar o porquê daquela pirâmide, e o que colocava em cada um dos espaços. E eu, interiormente, comecei a catalogar as pessoas:

- Nos amigos do Facebook estão todos aqueles que tu tens adicionado à tua conta no “Face”;

- Certo, digo eu.

- Já quanto aos “Amiguinhos” são aqueles que dão conta da tua existência de vez em quando, muito de vez em quando, mas já mostraram provas anteriormente que podiam vir a ser outro tipo de amigos (em síntese, são aqueles para os quais já fizeste e desdenhaste tudo e agora, nicles batatoides), exprimia ela;

- Não me digas isso, Maria. Essa etapa não, traz-me más recordações.

- Vá, vá [como já estivesse boa e as lágrimas tivessem parado], eu sei o que dizes, mas vamos continuar. Depois vêm os “Amigos Normais”: são aqueles que estão presentes de vez em quando, mais do que os “Amiguinhos”, mas tu nunca fizeste nada por eles ou pouquinho. É uma relação normal.

- Porque é que colocas os “Amigos Normais” à frente dos “Amiguinhos”? – perguntei eu.

- Porque quem olha para o outro lado da Lua e não para nós, não merece uma pontinha de um dedo. Mas digo-te já que tanto eu como tu vamos cair na esparrela e, em vez de uma pontinha, damos um dedo, ou aliás, a mão inteira! – respondeu ela.

- Continuando a nossa subida, depois temos os “Amigos Próximos”: são aqueles que estão sempre lá, mas que podiam estar mais; são aqueles que tu sentes que podiam dar mais de si!

- Hum, estou a ver! – exprimo eu.

- Em penúltimo lugar vêm os “Bons Amigos”. Tal como os amigos próximos eles… Podiam dar mais de si (tens de sentir isso!), mas… Vejamos! Uma pessoa faz tudo por ti e depois mantém-se a fazer, mas decai um pouco na relação como algo se tivesse acontecido.

- Interessante Maria, interessante. Nunca tinha pensado em nada disto!, respondi eu já com um pouco de frio. Eu coloco aqui os professores, eh eh!

- Por fim, e já no topo chegam os “Melhores Amigos” ou os “Ídolos”. Porque normalmente os “Melhores Amigos” são também aqueles que nós queremos imitar por vezes. Este são os nossos companheiros, mas que, como tudo e todos, podem passar a “Amiguinhos” do nada. Mas olha, eu própria me pergunto se existem “Melhores Amigos” se estes rapidamente podem descer de categoria.

- Desculpa lá, mas podemos ir embora? É que está frio. Vem para minha casa que tomamos um café e explicas-me o resto da pirâmide.

E assim foi, seguimos a correr em direção à escadaria e chegámos a minha casa. Com uma mesa corrida na sala de jantar, com um cafezinho para cada um em cima da mesa, ela explicou-me o que faltava da pirâmide: o triângulo que incluía todos os níveis que era o de nome “Família Presente”.

Depois de ela me explicar que a família presente é muito mais do que nossa amiga e que nós não conseguimos entender isso por vezes, e que, os “Amigos do Facebook” podem estar incluídos noutras categorias, abracei-a de novo e perguntei-lhe:

- Porque é que fizeste isto? Porque é que foste para a praia e ficaste lá com este tempo?

Ela respondeu: a vida, foi a vida que me obrigou a isto…

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Por obrigação ou por amor à camisola?

O dia tinha nascido sem quaisquer nuvens no céu, mas com o passar da manhã começaram-se a notar nuvens na nossa querida atmosfera terrestre que avizinhavam chuva. E nada mais certo aconteceu.

Pouco depois de almoçou começou a chover intensamente. Quem diria que de manhã o céu se apresentava azul e naquele momento estava nubladíssimo, carregadíssimo de moléculas de água para molhar imensos humanos que tinham saído de casa sem guarda chuva. Estavámos em pleno início de outono, ou seja, finais de setembro.

Nessa manhã tinha acordado radiantemente radiante, uma vez que iria estar com uma grande amiga que não via desde o fim das férias, a Margarida. Eu conheço a Margarida há 3 ou 4 anos, mas apenas nos víamos nas férias de verão, no Algarve.

Como de costume eu fico triste quando chove, apesar de continuar a fazer a minha vida normalmente. Apanhei o autocarro até à estação dos barcos onde ia buscar a menina "guidinha". Quando lá cheguei, àquele pedaço de metal já um pouco ferrugento e velho, com mais de 15 anos e com paragens de autocarro pintadas frequentemente para não mostrar ferrugem, para não falar no cheiro a lodo, uma vez que a maré estava vazia, corri para junto dela. Dei-lhe um abraço tão grande que quase a sufoquei. Mas aquele abraço era especial, continha saudade, muita saudade! Depois de falarmos um pouco sentados nos bancos que estavam molhados junto às bilheteiras dos barcos decidimos ir para Lisboa: jantávamos lá e acabava por ir ter com a minha mãe que mais tarde me traria para casa. Sem qualquer problema!

O meu passe estava a caducar. Tinha de o carregar. Pus-me na fila das máquinas de venda automática e quando chega à minha vez.... Ups! Como fui fazer o passe a outro operador, este dá-me para fazer o carregamento apenas como passe normal (sem desconto) nas máquinas!

Parei, respirei fundo, pedi à Margarida para esperar mais um pouco e olhei para o céu. Estava cada vez mais carregado, com relâmpagos ao fundo; ouvia-se trovões constantemente, uns ao longe, outros ao perto. 
A noite não se avizinhava nada boa para uma passeata na capital. Depois do passe carregado e de já termos validado a viagem, ficámos parados na sala de espera a ver os quadros maravilhosos que lá mostravam sobre a história dos barcos desde o seu nascimento até aos dias de hoje.

Cerca de 10 minutos depois, chegou o navio que nos levaria a Lisboa: carregado de pessoas para ir para casa, após um dia de trabalho cansativo e de várias viagens de transporte prolongadas e monótonas. Eis senão quanto vislumbro que uma das cordas que estavam a prender o navio estava-se a desfazer e o responsável pela atracagem do navio não se encontrava no cais. O mar estava também tempestuoso. Naquela "baía" que quase nenhumas ondas existiam, via-se onda atrás de onda como se fosse uma praia do sul do país.

De um momento para o outro, o rio agitou-se e o barco ainda a atracar partiu as batentes que eliminariam o encosto violento contra o cais de embarque. Do nada, naquele segundo quando consegui ver que as pessoas lá dentro estavam aflitas, dou um pontapé na porta esquerda que permitia o acesso ao cais e corro sem capucho para o batelão junto ao barco. A corda que segurava o navio ao cais estava por um fio! Sem luvas agarrei no resto da corda e tentei amarrar quando ouço um grito de dento do barco: Era Luísa, uma ex colega minha do Secundário. Enquanto ela gritava eu tentava a todo o custo segurar a dita corda. Estava a dar o meu máximo: a pouco e pouco o barco ia, de novo, se encostando ao cais para permitir as pessoas sairem com a máxima calma.

Pisco os olhos duas vezes, um código que significa olá em mim e a Luísa, que estava junto à porta do navio agora. Ao olhar para a direita vejo uma onda gigante a abater-se sobre o barco: dei um gito e larguei a corda, acenei com a mão para dizer adeus e imitei uma onda com as mãos em sinal de perigo, mas era tarde de mais.

Margarida na sala de espera do terminal deu também um grito e tentou seguir-me, mas as pessoas que ali estavam impediram-na. Num único momento, o perigo da onda, o perigo do barco bater contra o batelão e ferir Luísa e o medo de eu ficar sem vida não entravam cá dentro, na cabeça. Num segundo larguei a corda, o barco parte o batelão, eu dispo a camisola vermelha que vestia e salto para dentro do rio... A onda tinha-me comido e atirado para o teto do terminal; quanto ao barco, tinha ficado destruído e mais de metade das pessoas estavam mortas. Tinha-se salvado apenas Filipe dentro do barco e Margarida no terminal. Eu, seminu, tentei fazer sinal às autoridades para me salvarem dali e ao final de seis horas de completo desespero safei-me com uma fratura exposta na perna direita.

Depois da cirurgia que tive de fazer e que tinha deixado com uma cicatriz do joelho até ao calcanhar perguntei por Luísa e por Margarida. A primeira tinha morrido e a segunda tinha começado a namorar com Filipe. Mais tarde recebi a visita de ambos no quarto e chorei como nunca tinha chorado, com pena da morte e alegria da nova relação! Mas não tinha conseguido salvar Luísa...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ora mais um para o molhe....

Estava vageando por entre papéis virtuais quando descobri o seguinte texto. Assentou-me que nem uma luva. Vejamos então. O texto foi publicado com a devida autorização.

"Eram suricatas; Apareceram plantas

Faltava poucos dias para o final. A partir daquela data ficávamos livres como lindos e bonitos pássaros que habitam o planeta Terra. As promessas de oferta de uma população especial de suricatas (onde era possível comunicar com elas e saber que se passava com as mesmas) eram imensas.

Dia após dia, ficava quieto de manhã na cama a pensar quando viriam as minhas suricatas. Um dia tinham de me ser entregues, caso contrário significaria uma desilusão imensa por não existirem novas relações. Acabava todos os dias por viajar no meu imaginário: a adorar as suricatas, a pensar que, se fosse uma delas, possivelmente não teria de estar a ver semana após semana cortes e mais cortes orçamentais no país.

Chegou o momento em que eu pensava que as suricatas me iam ser entregues; já tinha tudo preparado: local para as pôr, tempo para as ouvir, sorriso para as acarinhar.

No entanto, naquele preciso momento, zás! Em vez de uma linda população de suricatas, ofereceram-me uma planta cheia de clorofila. Apesar de todos os constituintes da planta, eu não conseguia comunicar com ela. Apenas via o que se passava dentro daquele ser vivo. Aquelas trocas de fluidos existentes, que são lindas, é certo, mas que não deixam que exista comunicação. Nenhuma, enquanto não faltar alguém. Acho que nesse caso eu também me integrava na planata como se fosse uma hormona que só não é inibida quando existe falta de outro componente (o tal outro que iria fazer com que eu recebesse as minhas queridas suricatas).

O que sei é que acabei por ficar um pouco desiludido. Não tenho suricatas e não consigo falar com a querida plantinha que me deram. Ai... Ao menos posso ter um quarto mais oxigenado durante o dia, mas até parece que o efeito nem é esse.

Só eu, só eu..."

Acho que tenho de acrescentar quem é o autor do texto. No entanto e por vergonha da mesma pessoa, apenas posso dizer: S.B.

Fiquei a pensar nisto. Como a realidade de um texto que nada parece ter a ver com a adolescência acabou por dizer muito acerca dos comportamentos de amizade entre adolescentes... É só pensar e descobrir palavras com duplo sentido. Adorei!