Estava ele junto ao mar, com boné escuro e com umas roupas esfarrapadas. O dia estava horrível: vento fortíssimo, chuva “certinha” e uma bela e valente trovoada audível a quilómetros de distância. Já toda a gente tinha saído da praia.
As pessoas começaram a desabelhar cedo, não só pelo tempo, mas também por causa do desporto que dava na televisão e, aliás, como se estava perto do fim do mês era necessário arrumar tudo para se voltar à mesma rotina do resto do ano (levanta, trabalho, come, trabalho, come, dorme)!
Não obstante, aquele rapaz continuava ali, já com uma toalha que estava embrulhada no seu corpo, que tinha sido dada por um turista que teve pena dele. E eu, da minha janela a vê-lo; no quentinho da minha casa, já de banho tomado e vestido a roupa “normal” de cidade a olhar para aquela pessoa, a única naquela vasta areia esbranquiçada.
Tinha de fazer algo! Não consegui manter-me a ver uma pessoa ao longe, que parecia ser da minha idade, ali, naquele pedaço de areia que piso todos os dias de férias, e fiz à estrada (como quem diz… Fui à praia). Ia com o pensamento de que pouco ou nada conseguiria fazer para levar aquele rapaz dali, mas quando cheguei perto dele, tudo mudou:
Ele não era um ele, mas sim uma rapariga;
Ele não era um desconhecido, mas sim uma amiga;
Ele não era um “tomba lobos”, era bem ricalhaça.
Sentei-me ao lado esquerdo dela e perguntei, como fazia sempre… Maria, que se passa? E ela responde:
- Tive uma ideia e precisava de olhar para o mar para pensar nela. Não consigo sair daqui. As lágrimas do silêncio são pesadas de mais para eu poder ter vontade de sair deste sítio bonito, mas que agora está carregado de cinza, com um mar revoltado e com uma areia que nem parece a habitual, por causa da chuva.
Eu abracei-a e fiquei quieto. Engoli o que ela disse em seco e dois ou três minutos depois perguntei-lhe qual era a brilhante ideia dela. “Sem fus nem fás” a rapariga contou-me o que tinha pensado: A pirâmide da amizade.
Entusiasmado como de costume, perguntei eu:
- O que é isso; Explica-me! Sabes bem como sou eu com novas ideias!
Ela mostrou-me ao lado um desenho igual àquele que está ao lado direito da página. E eu pus-me a imaginar todas as minhas relações de “amizade” e de amizade verdadeira que tinha.
O lugar mais baixo era o de “Amigos do Facebook”. Quando eu falei num tom mais alto ao ler “Amigos do Facebook”, Maria voltou-se e começou-me a explicar o porquê daquela pirâmide, e o que colocava em cada um dos espaços. E eu, interiormente, comecei a catalogar as pessoas:
- Nos amigos do Facebook estão todos aqueles que tu tens adicionado à tua conta no “Face”;
- Certo, digo eu.
- Já quanto aos “Amiguinhos” são aqueles que dão conta da tua existência de vez em quando, muito de vez em quando, mas já mostraram provas anteriormente que podiam vir a ser outro tipo de amigos (em síntese, são aqueles para os quais já fizeste e desdenhaste tudo e agora, nicles batatoides), exprimia ela;
- Não me digas isso, Maria. Essa etapa não, traz-me más recordações.
- Vá, vá [como já estivesse boa e as lágrimas tivessem parado], eu sei o que dizes, mas vamos continuar. Depois vêm os “Amigos Normais”: são aqueles que estão presentes de vez em quando, mais do que os “Amiguinhos”, mas tu nunca fizeste nada por eles ou pouquinho. É uma relação normal.
- Porque é que colocas os “Amigos Normais” à frente dos “Amiguinhos”? – perguntei eu.
- Porque quem olha para o outro lado da Lua e não para nós, não merece uma pontinha de um dedo. Mas digo-te já que tanto eu como tu vamos cair na esparrela e, em vez de uma pontinha, damos um dedo, ou aliás, a mão inteira! – respondeu ela.
- Continuando a nossa subida, depois temos os “Amigos Próximos”: são aqueles que estão sempre lá, mas que podiam estar mais; são aqueles que tu sentes que podiam dar mais de si!
- Hum, estou a ver! – exprimo eu.
- Em penúltimo lugar vêm os “Bons Amigos”. Tal como os amigos próximos eles… Podiam dar mais de si (tens de sentir isso!), mas… Vejamos! Uma pessoa faz tudo por ti e depois mantém-se a fazer, mas decai um pouco na relação como algo se tivesse acontecido.
- Interessante Maria, interessante. Nunca tinha pensado em nada disto!, respondi eu já com um pouco de frio. Eu coloco aqui os professores, eh eh!
- Por fim, e já no topo chegam os “Melhores Amigos” ou os “Ídolos”. Porque normalmente os “Melhores Amigos” são também aqueles que nós queremos imitar por vezes. Este são os nossos companheiros, mas que, como tudo e todos, podem passar a “Amiguinhos” do nada. Mas olha, eu própria me pergunto se existem “Melhores Amigos” se estes rapidamente podem descer de categoria.
- Desculpa lá, mas podemos ir embora? É que está frio. Vem para minha casa que tomamos um café e explicas-me o resto da pirâmide.
E assim foi, seguimos a correr em direção à escadaria e chegámos a minha casa. Com uma mesa corrida na sala de jantar, com um cafezinho para cada um em cima da mesa, ela explicou-me o que faltava da pirâmide: o triângulo que incluía todos os níveis que era o de nome “Família Presente”.
Depois de ela me explicar que a família presente é muito mais do que nossa amiga e que nós não conseguimos entender isso por vezes, e que, os “Amigos do Facebook” podem estar incluídos noutras categorias, abracei-a de novo e perguntei-lhe:
- Porque é que fizeste isto? Porque é que foste para a praia e ficaste lá com este tempo?
Ela respondeu: a vida, foi a vida que me obrigou a isto…