domingo, 30 de janeiro de 2011

Daily routine...

Tudo se está a tornar insuportável dentro de mim. Levanto-me e todos os dias me dizem "as pessoas devem achar que és maluco por ires tão cedo para a escola". E eu respondo, "vem comigo para a paragem de autocarro e vês porque é que vou tão cedo.". Acabam por engolir em seco o que digo e acabam de me preparar o pequeno almoço.

Depois disso é o autocarro. Tanto faz ser velho como novo, de piso rebaixado ou não, é a única altura do dia em que não me preocupo com isso, no entanto, se começar o dia num autocarro novo é diferente, porquê não sei, mas sinto a diferença - é psicológico. E também há outra relacionada com isto: quando perco o autocarro do costume, o dia corre sempre mal. (E será que as pessoas não leem as regras: " As crianças com menos de 4 anos podem viajar gratuitamente, desde que não ocupem lugar" - mas vimos sempre lugares sentados ocupados só com crianças com menos de 4 anos e as mães em pé - menos uns lugares sentados, acabo sempre por pensar).

Enfim, chego à escola. Todos os dias o primeiro aluno a entrar por aqueles portões verdes. Vou para a sala da AE. Ligo a TV e converso com as funcionárias da limpeza. Há com cada história entre elas...

O resto do dia é normal, com mais ou menos bocas, mas isso, quem é que não sofre - só quem não é diferente do normal e evidencia ao máximo essa diferença.

Com mais ou menos serão feito, venho para casa e aí se apanho um autocarro velho parece que a tristeza se apodera de mim. E acabo por chegar a casa e ouvir: "não estudas, metes-te em tudo, coisas que não são para ti". Eu engulo em seco e continuo a minha presença no computador. E todos os dias é isto. Ouço a família a dizer sempre isto.

O facto é que quando vou dormir e apesar de ter ido para cama cedo, como ia no básico - por volta das 22h, a minha cabeça não para de pensar. Acaba sempre por ter ideias novas para o projeto X ou Y, ou então, lembro-me da resolução de alguns exercícios de Matemática que me deram cabo da cabeça na véspera. Acabo por ter sonhos bons por vezes, outras noites são pesadelos horríveis. E acordo a meio da noite... Perguntando... Onde é que está? O que se passou??? Chorando um pouco por vezes.... Hello, I'm here.

O que sei é que não quero ser infeliz, mas também não me quero envolver em mais atividades para tapar saudades e faltas sentimentais.... I'm crying.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Afinal, abrem-se os horizontes

A vida continua a correr, os dias não param, a rotação da Terra, o nosso planeta verde, segue o seu ritmo natural, trancando aos humanos a vivência do passado.

E eu, supersticioso ao máximo, acho que se conheci as pessoas que conheci, alguma razão existiu e durante o espaço de tempo que as pessoas se relacionam a um nível firme e elevado mudam-se umas às outras e acabam por ter um papel importante na vida da pessoa em causa. Ou por bons ou por maus motivos, existe sempre alguma razão para que a importância fique gravada cá dentro e que seja difícil esquecer.

E de facto, quanto mais é ligação à outra pessoa, maiores são as recordações que ficam. Mas tudo tem um termo. Com tudo isto digo que, quem se relacionou comigo, leva de mim duas impressões: uma boa, de amigo altruísta e filantrópico, uma má, de mandão e controlador. Como são extremos e associando isso à minha difícil personalidade digo com quase toda a certeza que as pessoas aprendem bastante ao relacionarem-se comigo. E ficam de caminhos abertos para o futuro se se aperceberem para uma maior vivência no futuro, quando eu já não puder intervir com a pessoa em si.

Desta feita, o primeiro contacto comigo é difícil, ou me detestam ou até engraçam comigo. Depois, caso me detestem à primeira vista, dificilmente se alterará essa ideia, caso contrário, e no primeiro contacto as pessoas até percebam que não sou igual às outras pessoas, acabam por ter outro obstáculo à frente a minha dura personalidade se se quiserem aproximar, daí, quem gosta de mim, passar-me a detestar quando me vai conhecendo mais a fundo.

Até agora nada de novo, mas acrescento uma parte à frase que comecei no parágrafo anterior: "Além do mais, as memórias deixam caminhos abertos para a vida", porque ao ser diferente dos outros, há sempre ideias novas que fazem as pessoas perceber como devem lidar comigo.

Assim, Quando as pessoas me conhecem ou engraçam comigo ou me detestam. Depois, quanto mais me vão conhecendo, mais me vão detestando e afastando. No entanto, quem se ligou a mim fica com os caminhos abertos para a vida porque as memórias ficam retidas dentro de si.

E eu, após tudo isto, acabo por ficar com saudades do passado, mas não posso revive-lo. Acabam por ser saudades inacessíveis.

PS: Quando sinto falta das pessoas não consigo dizer-lhes. É como que tivesse vergonha.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Desabafo #5

Estou numa varanda a sentir o vento frio que corre na rua e que me afeta o corpo que me faz tremer a torto e a direito. Quero estar quentinho, com uma boa disposição e não quero acordar mal disposto.


Sinto a falta de algumas pessoas. Estou triste por causa disso.

Questões... Simples questões

Hoje à tarde, quando cheguei a casa, corriam-me pela face lágrimas. Fiquei a pensar nelas e coloco então algumas questões:

- Serei de confiança para os meus amigos?
- Será que estou sempre "lá" quando é preciso?
- Porque é que algumas das relações de amizade são afetadas com o que os outro pensam acerca do que nós somos, se essas pessoas não nos conhecem minimamente?
- Sou assim tão mau amigo que só olho para o meu umbigo?


Acho que são estas. Atrás destas vem o resto que implica toda a estrutura de relações interpressoais humanas.

As mensagens de parabéns...

Hoje faço anos. Nada de especial para mim, como muitos leitores já sabem, porque não ligo muito ao dia do meu nascimento.

Como é óbvio vejo as mensagens de parabéns no telemóvel, no Facebook, ou então se as tiver, no mail. E confesso que este ano fiquei com as primeiras surpreso, porque algumas eram de duas ou mais pessoas ao mesmo tempo! Fiquei contente por isso, até certo ponto, mas como todos sabem, a contentia não é muito fácil de ser extrema, e em mim, ui... isso nem se conta.

As primeiras pessoas a darem-me os parabéns tanto pelo telemóvel, tanto pelo Facebook têm direito a um reverso da moeda extra, a bem dizer... a um parágrafo neste post do meu blog, dado que o dia de anos é entendido para mim como o dia das memórias in(ocultas).

Cá vamos!

Faceboook:

Catarina Patinha: Assumido desde o primeiro dia que cusquei as notas dela no Álvaro Velho, nunca liguei as notas à pessoa certa até ao final do meu 8.º ano, quando por pura coincidência estava com a prima de um amigo meu e chega a verdadeira Patinha - sim, porque naquela altura os amigos chamavam-lhe Patinha. Acabaste por passar para o secundário e fizeste-o com segurança! Estás agora num sítio chamado faculdade, como é óbvio tu nunca irias ficar a meio! Enquanto estiveste no secundário as poucas vezes que falámos deu para ver que eras muito mais simpática do que aquilo que eu pensava, mas olha... Bom estudos e obrigado pela mensagem de Parabéns!

Luísa Carvalho: És uma rapariga cheia de mistérios. Entraste na minha vida como colega de turma no final do 1.º período do meu 11.º e acabaste por sair tempo depois. Chegámos a partilhar um aquecedor do laboratório de Física pequenino e um pacote de Pringles qualquer que eu já nem me lembro do sabor, mas recordo-me perfeitamente das contas qeu fizémos mentalmente para ver se o pacote pequeno era mais vantajoso de comprar ou não! Vi-te ao longe no outro dia, ao pé da casa da minha "tia" no C. Verde. Ias a sair da casa dela! Espero que tudo te corra bem e que continues a sorrir toda a vida.

Marco Valente: Tche.... Um homem dos transportes... ou melhor o grande homem dos SMTCB! Ele fez girar o mundo e criou um site alusivo aos nosso (in)estimáveis autocarros. Tenho bastante pena de não poderes ter mais apoios no site. Mas já sabes, comigo podes contar para o que for preciso dentro do site!

Betty Afonso, não não, ela é Elisabete!: Eu sempre pensei que na aula de Psicologia B as turmas de ciências e de Economia nunca se iriam dar bem, no entanto, o que sei é que eu e a Elisabete passamos ali a aula no treco-lareco quando é preciso ou temos tema de conversa. E as conversas até são interessantes diga-se de passagem! Espero que alcances os teus objetivos de vida! Obrigado.

Ricardo Marques: Caro amigo. A tua mensagem de Facebook fez-me lembrar muito. Até ao ponto de teres-me posto em qualquer coisa de escolha múltipla lá na escola (assumo que não me lembro muito bem). Bem, o que é certo é que desde que estamos no mesmo grupo de AP tenho-te percebido melhor e és 5*! Obrigado!

E agora as SMS:

Satu: A primeira mensagem vai logo calhar numa pessoa difícil de lembrar - porque há tanta coisa passada em comum. Nós éramos pequenos, nós fugíamos das nossas turmas e acabavámos sempre a falar junto à parede do bloco 5, em frente às salas de informática. Eu saía da sala disparado e no momento seguinte já estava ali para te chatear. Assumo que me atualmente posso me sentir um posso triste, mas a vida é feita de equilíbrios e por isso, espero que venha algo bom por aí.

Ana: Desculpa, mas não consigo dizer muito mais do que já disse em tantas grafias minhas anteriores. A última perspetiva que tenho é de aprendizagem: dado que o final do secundário se aproxima e tu fizeste-me aprender a viver depois disso, mas de forma antecipada. Bem, acho que isso é bom. Obrigado pela mensagem.

Inês, Zé e Farinha: Caríssimos, nem eu nunca pensava que iam mandar SMS. A Inês já esteve comigo na catequese. Já me conhecia há anos, pelo menos de vista e das vezes que falávamos. Lembro-me de uma passagem dela a dizer que como tinha aulas na Baixa da Banheira não comemorava o feriado a 28 de junho e por isso, tinha mais um dia de aulas. Todos se riram e eu fiquei de cabeça baixa triste. O Zé. Bem, ele é aquele moço que me está sempre a surpreender. Ou pelo bem, ou pelo menos bem. Não temos quaisquer problemas em chegar ao pé um do outro e ralhar com essa pessoa. O que é certo é que ele é um bom rapaz! Por fim a Farinha. Conheci-a no meu curso de inglês, tinha 11 anos. Ela e eu andávamos sempre em computadores separados, mas acho que eu acabava sempre por ir para perto dela e ficávamos ali um pouco na conversa. Ela é uma miúda que se preza. Mas temos de a conhecer bem. Tenho pena disso, porque ela deve ser uma boa rapariga. Obrigado aos três.

Rui: Mandaste uma sms e depois quando liguei o PC vi a imagem que me mandaste ontem às 10 e tal da noite. Obrigado por ela. Bem, acho que és um irmão para mim. Agora temos um problema. Eu sou mais novo que tu, mas dizes que eu pareço mais velho que tu. Eu sei que tenho sentido de responsabilidade demasiado apurado e dores de costas. Mas nah..... Continuo a ser um mano mais novinho. E não te escapas da ida à faculdade comigo de carro um dia, isto é, se eu cá ficar colocado. Grande abraço e obrigado. PS: vê lá se pensas primeiro em ti e depois nos outros.

Ana B.: Só faltava tu não me mandares sms. Mas ainda bem que mandaste, com ela consegui reviver todos os momentos de Odeceixe: os filmes da Dança D e da Família e quando nós invadimos a tua casa, que acaba por ser a casa de todos nós. Tenho pena de sermos tão diferentes um do outro, mas a nossa relação é assim! És uma grande miúda, mas apenas me vais fazer massagens depois de tirares o curso, muahhh.

Sofia Silvestre: Os últimos são sempre os primeiros! Mandaste mensagem pouco antes de eu acordar. Obrigado. O teus sorriso das fotos e daquele dia em que estavas com o Rui e com a Filipa ficará sempre gravado cá dentro. Obrigado pela paciência e pelo resto. Boa sorte para a Natação!


E assim é. Foram estas as primeiras pessoas que me mandaram SMS num dia de sábado, como em tudo normal aos outros, com um frio de roer e com nada para fazer. O meu dia vai ser normal, passado pelo meio das ruas. Quando a festa com os meus amigos, não sei como fazê-la. Para isso, basta perceber o que escrevi no outro texto - Recordações #3.  Obrigado a todos mais uma vez!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Um sentimento...

Está tão longe, mas tão perto... É como que a mão estivesse esticada e ainda faltava o tal "danoninho". Sucumbir à dor e à fragilidade não! Quero fazer com que o meu braço cresça um bocadinho...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Os sonhos do Diabo

Porque há sempre algo que nos falha, ou que nos impede de seguir em frente, acabamos por dar conta de nós parados no canto do quarto, ou no meio da escola, ou então, quando ouvimos "com licença" no meio dos autocarros.

Quando tal nos acontece, o que simplesmente nos apetece fazer é refugiar-nos no mundo que é só nosso, para o qual guardamos as chaves e mandamos no tempo. Em todos eles. No tempo da escrita, no tempo meteorológico, entre outros e ainda no espaço.

Esse mundinho não tem entrada sem nenhuma consequência. Temos sempre de pagar algo por entrar nele e acabamos sempre por sofrer (em 99,9% dos casos) quando saímos e damos de caras com a realidade de novo.

A bem dizer, notas, testes, amizades, sonhos e cursos dominam a vida de um adolescente. E de facto, é a ordem da vida de alguém que se preze. Mas ao vermos a legislação e o mundo percebemos que temos de pontapear quem é mais fraco para podermos ser e entrar quem queremos ou ambicionamos.

E será que isso está correto?

Quando as pessoas se mostram com um pensamento reto, estão mal, porque só veem a, quando deveriam ver o alfabeto. Quando as pessoas se mostram com um largo pensamento, também estão mal, porque ao quererem ver todas as letras do alfabeto, acabam por demonstrar dificuldade em vez letras gregas, ou números (que também são importantes de ver).

Logo, essas duas pessoas não conseguem viver bem no mundo atual infelizmente. Apesar de exisitirem pessoas com meio termo que também têm algumas dificuldades é certo, acabam sempre por se fragilizarem pelo inverso, ou seja, naquilo que eram mais fortes, são aquelas áreas em que se demonstram mais tristes ou mais sensíveis.

Os sonhos acabam por serem satisfeitos ao serem enviados para o nosso inconsciente, mas quando eles tentam voltar à razão, muito está estragado. Dá-nos uma vontade louca de pensar no "como" e "onde" fazer tal sonho. Mas não é possível de realizar na maioria das vezes quando isso acontece.

Um sonho, associado a pessoas retas, ou com um largo espetro de visão, com família, conhecidos, amigos ou colegas acaba sempre por dar mau resultado.

Porque o hábito não é saudável, mas sim degenera ao quebrar com a novidade! E acaba por nos deixar a nós, pessoas detentoras de sonho, no nosso mundinho fechado. 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mini-frase #3

A água dos rios é como a vida, quando corre numa direção, não volta ao mesmo sítio. Quando a maré vaza, ela desce. Quando a maré enche, a mesma até pode voltar de onde veio, mas nunca 100% ao mesmo sítio.

Uma viagem de barco

A partida do barco já estava anunciada, àquela hora, naquele dia daquele ano, a viagem tinha de ser feita. Por mais voltas que o mundo desse, o barco tinha de partir. Havia mercadorias para levar, pessoas para transportar e marinheiros com vontade de trabalhar, de boina branca de risca azul escura e crashás ao peito, junto do coração.

No meio de tal navio, partindo do porto de tal majestosa cidade ia uma pessoa. Aterefada com as suas leituras, com os phones nos ouvidos, não ouvira o apito do barco. E assim começou a viagem sem regresso às terras lusas, com vontade de chorar na partida e furor à chegada no destino.

Outro passageiro acenava às pessoas que estavam a despedir-se de quem ia no navio, apesar de não conhecer ninguém. A estibordo empoleirado nos ferros sorria de forma tal que não se lembrava que não iria regressar a tal terra.

E ainda um terceiro, destemido, a ver por uma porta entreaberta para a ponte do barco todos os mecanismos, as perfeições e as imperfeições, a pensar nos desejos que tinha e nas impossibilidades causadas pela vida. Todos eles tinham no bolso direito do casaco vestido um papel, uma mensagem de quem lhes era entre querido. Por mais que quisessem abrir não podiam. A vontade da outra pessoa era apenas abrirem tal comunicação quando estivessem nas terra do outro lado do oceano.

A viagem era longa, mas o passageiro que estava no camarote nunca saía de lá. Apenas para comer. O passageiro que estava junto à ponte do barco sempre que podia ia para lá espreitar todos os comandos e tomava notas. E o outro, quando não chovia punha-se a estibordo a olhar para o mar infinito.

O último, apaixonado pelo mar, ficava ali perentoriamente a olhar para o mar límpido e completamente profundo. O estudioso que ficava sempre no camarote, tinha enchido as paredes do pequeno espaço com fórmulas e ideias que ninguém as ouvia. E ainda o outro, que tentava sempre ver a ponte foi convidado para manejar o leme por uns minutos. Os três estavam felizes, até que se encontraram certo dia na sala de refeições, sentados à mesma mesa.

As personalidades eram parecidas. Mas ambos tinham maneiras distintas de esquecer os entraves que lhes tinham posto, no entanto, todos tinham saído do país de origem para viver melhor, esquecer pessoas, ver outras cidades e tentar estabelecer uma nova família. Após esse encontro, parecia que o mundo se tinha entornado três vezes. Por mais que eles quisessem pensar doutra maneira, toda a vida já estava delineada nas mãos daqueles três.

E nas três vezes, que três pessoas leram as mãos dos três homens, no trigésimo terceiro dia da terceira viagem daquele navio, todos eles saíram de lá a chorar.

E eu, no canto da sala VIP daquele enorme navio, a bombordo, reparava na felicidade daqueles três. Tinham cada um o tal papel. Todos eles se tinham despedido de quem mais gostava deles. Todos eles partiam à busca de um sonho. No meio do escuro do meu minúsculo camarote dei-me como vencido, sem vontade de muito mais, com o lápis no chão, depois de desenhar uma prateleira com uma flor no jarro que lá estava. A forma do jarro era mais difícil de desenhar que a própria flor em si.

Aqueles três sorriam, diziam piadas, eram perfeitos para o novo país. Mas eu, ao contrário deles, estava no meu canto. Sentava-me na mesa com quem viesse ter comigo, ou onde existisse um lugar. Dizia boa tarde ou boa noite e comia. Depois agradecia a companhia e saía. Além de responder sim ou não consoante a questão que me faziam.

Chegou a altura do desembarque. Os três felizes saíram despediram-se uns dos outros e seguiram rumos diferentes. Eu, a tentar inspirar o ar da minha nova cidade sou empurrado como que uma leve mercadoria para a escada de saída.

Um ao chegar a casa abre o papel e lê.. "Lembra-te de mim". O segundo no autocarro abre e lê "Os meus olhos são assim sempre. Com uma pequena mancha de claridade na parte exterior do que é castanho". Por fim o terceiro abre no dia seguinte e vê um papel em branco. Mas lembra-se que era aquele papel que dizia tudo. Era a primeira folha que ele tinha escrito e onde as letras se tinham sumido.

Quando cheguei a casa tinha correio à minha espera. Não esperava nada. Mas ali estava o tal papel e uma chave verde amarelada escrita com excelentes recordações. Ao derramar uma lágrima, abro a janela do quarto e solto uma lágrima de saudade. Cá em baixo junto à entrada, onde a lágrima caiu estava uma pessoa que ficou com a cabeça molhada. Por mais que eu quisesse pedir desculpa não podia.

Por mais que nós não queiramos, a saudade invade-nos a alma, o hábito cria mágoa e a rotina estraga toda a nossa vivência. As igualdades não são simétricas, os desejos são sonhos e os sonhos, tal como nós, são pó das estrelas.
O silêncio compromete o ser vivo, o choro desgasta-o e a dor mata-o de sofrimento.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Recordações #3

Mais uma vez está a chegar o meu aniversário.

E também mais uma vez que até posso ser dramaticamente dramático, expressamente melodramático ou espontaneamente diretamente verdadeiro, cá vai mais um despe vida.

Pode ser que assim vejam, por mais uma vez como não há vontade para muito, e porque as pessoas são como são.


Ter aniversários nunca foram grandes coisas para mim, apesar de nada família se cultivar desde cedo o dia de anos, a rolote que recebi como prenda ao ano de idade dizia o que seria o meu pensamento acerca do aniversário para o resto da vida.

Até aos cinco anos foram todos passados em casa, em conjunto com a mãe, fazíamos e fazemos anos com poucos dias de diferença de mim. Tinha quatro anos. Na minha festa de anos, tentei brincar um pouco ao que as raparigas gostavam na altura - as Navegantes da Lua. Resultado: não conseguido. Ninguém me ligou.
Tinha cinco anos. Foi a primeira festa de anos fora de casa. No ATL que tinha abrido de propósito para se fazer a minha pequena festa de anos. Queria comer um pão nessa altura, na festa. Resultado: não conseguido. Os meus "amigos" tinham comido todo o pão que havia. Cheguei a casa e chorei. Já não chorava em público. Seis anos. Estava no primeiro ano da primária e não era convidado para qualquer festa. E na minha, quase ninguém foi porque havia outra no mesmo fim de semana. Fiquei triste. Sete anos. A minha primeira festa de anos maiorzinha. Éramos para ir de fato de treino, porque a festa era no ginásio. Todos foram, mas eu ostentei gravata, suspensórios e sapatos. Fiquei triste por ser diferente. Oito e Nove anos feitos. Normais. Festas de 30 pessoas, onde as prendas faziam parte do meu dia de anos. E uma semana depois, tudo o que recebia já tinha passado à história. Dez anos. Estava no 5.º ano. Era comum o aluno que fazia anos ser o último a entrar para todos lhe cantarem os parabéns. A mim ninguém fez isso. Fiquei triste. Só me deram os parabéns no dia seguinte (falo dos meus colegas). Onze e doze anos. Deixei de ter prendas caras. Passei a dar valor ao que realmente era o dinheiro. Quem queria convidar para ir à festa não ia. Fiquei triste. Treze e catorze anos. Os piores aniversários da minha vida. Aos treze, de 15 pessoas, apareceram 3. Parecia que tudo estava chateado comigo. E sim, estavam, eu era diferente dos outros, porque tinha posto a minha vida a nu perante a turma e tinha feito os meus professores chorarem. Aos catorze uma simples festa em casa com um bolo que me deixou com o estômago às voltas durante a semana seguinte. Conclusão: Tentar esquecer. Quinze anos. Cinema do Fórum. Quase toda a turma. Nada de especial. Convivia com quem vivia todos os dias úteis. A presença deles fez-me bem. Recebi prendas boas, bastante sentimentais. Mas estava triste de antemão. Dezasseis anos. Não fiz festa. Duas colegas minhas encarregaram-se de trazer um queque com fósforos para celebrar o meu aniversário. Fiquei contente, mas triste quando ouvi da boca da professora: "só fazem isto?, vocês que sabem fazer muito melhor?". Conclusão: Obrigado, mas a boca ficou cá dentro.

Faço dezassete agora. Não tenho vontade de fazer nada. As pessoas importantes na minha vida são amigos, além da família. Por serem amigos, têm de ser respeitados. Por isso é que não há festa com pompa e circunstância. Digam-me... Depois de tudo isto que vontade há de fazer festas e sorrir?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Future Thinking #5

Há tanto tempo que não falávamos.

Assumo que sou culpado disso, tenho andado para aqui ocupado com as coisas da casa, dado que a mãe comprou-me uma casa por aqui e devo ficar cá a viver. É longe da cidade capital é um facto e também de toda a vida minha passada, mas já me habituei a viver aqui e por isso, não me custa ficar o resto dos anos. Já conhecia aqui alguns amigos e por isso, adaptei-me mais facilmente.

Mas também digo que tenho saudades da minha terra natal. E das pessoas que passaram comigo a maior parte do tempo.  Não tenho ido aí de fim de semana. A família é que vem cá e também estão a pensar seriamente em vir ter comigo definitivamente.

E sim, especialmente de ti. Tenho saudades tuas, das nossas conversas, da nossa grane abertura, dos nossos sorrisos virtuais e da nossa antiga amizade. Por muito que eu te considere a mesma pessoa com a mesma importância para mim neste momento, estar longe de ti dificulta muito as coisas. Se até quando estávamos perto eu por vezes achava-te longe, fará agora. Cada dia que passa tenho cada vez mais saudades dos nossos smiles, e da tua carinhosidade.

Mas também digo que não fosse a tua vontade de quereres que o meu mundo não girasse à tua volta que neste preciso momento sinto-me com vontade de não precisar tanto de ti. No entanto , não posso ignorar a tua importância na minha vida, tanto no passado como no presente!

Espero que estejas bem e a tua família esteja excelente. E já sabes, agora que tens a minha morada cá de cima, podes enviar o que quiseres, quando quiseres! Ah, e um a parte no serious relationships. Já sabes como eu sou!

Vive a vida como tu melhor sabes,

Beijos do teu amigo

Dupé

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Mais um post do Ficfacto...

Pensamos sempre que dizemos tudo, mas fica sempre algo por dizer. Com todas as pessoas, todos os assuntos, é como que o nosso estômago dissesse que vais perguntar e depois o nosso sistema nervoso se alterasse e proibisse que disséssemos tal coisa.

E de facto, ficamos depois a pensar se o que nos faltou dizer a quem quer que seja podia ter ajudado a resolver o se estava a falar. Por acaso, eu sou muito medroso nas amizades. Tenho medo de as perder, especialmente aquelas que eu mais estimo. São nessas relações que os nervos entram mais. É como o seguinte dia: De manhã, quando nos lembramos do assunto, está Sol. Depois, à hora de almoço, quando tentamos dizer, é quando o céu fica nublado. E à tarde, quando podíamos dizer, chove. E já não dizemos, e entretanto chega a noite.

As nossas ideias acabam por ficar reprimidas. Por um lado até é bom, por outro podem ficar a ficar a remoer e aí nada melhor do que dizer mesmo.

Mas passando a outro assunto, o blog. O meu blog que já levou tantas voltas na sua pequena vida. Já teve o nome de "Vapetece xP" e depois acabou por mudar para o nome que tem atualmente. A vida acaba por nos enfrentar com situações que nos faz pensar duas vezes e uma destas, foi mudar o nome do blog. Questiono-me várias vezes quanto à continuação dele. A inspiração falta e tem sido escassa. Por muito mais que eu queira não consigo ver fruto daquilo que desabafo. Sim, porque nem tudo o que aquilo que escrevo é ficção e por vezes tem alguma mistura de realidade que me atormenta. Não quero que este espaço seja apenas para descarregar quando preciso. Apesar de que neste post, já não o está a ser.

Caros Leitores, o que vos posso dizer é que por estes textos já passaram amores, grandes mesmo. Amores com A grande. Daqueles que não se esquecem de um dia para o outro. Que demoram a esquecer. Daqueles que quem tem/sofre de olho e ouvido bem apurado vê e ouve o que quer e o que não quer. Houve tristezas, sim também com T grande. Daquelas enormes que demoram meses a curar. E ainda me pergunto por vezes, se elas estão curadas.

Passaram por aqui duas grandes histórias, que se fosse agora não sabia escrevê-las, apesar de tudo. Não tinha a mínima vontade. Acabo sempre por ter um pouco da minha pouca autoconfiança nos textos. E por mais que queira não trovejar dos olhos, acabo por fazer isso quando menos espero e quando menos quero. Por mais que queira ser como sou, não posso, porque a sociedade não está estereotipada para pessoas como eu. São nestes momentos que me sinto mais triste. Apesar de existirem sempre vozes que se levantam e me põem para cima, há sempre algo mais (que não se diz - mas que se sente) que nos deixa mais em baixo.

E depois de tudo, ainda vêm as relações de novo. Aquelas em que acabamos por sofrer. Ou por pensar que determinadas pessoas são superiores a nós. Com isso, eu sofro, mas acabo por pensar que sou uma pessoa simples, não sou rico, não tenho irmãos e acabo por não ver o meu pai. Apenas dependo de mim e da minha vontade para viver (esquecendo dos bens materiais e da família). E não, jeito para fazer amigos e para os amigos, também me levam a dizer que não tenho. E que sou bastante difícil de aturar (parece que vais uma vez voltámos à minha baixa capacidade de realização emocional). Por mais que me elogiem, parece que falta sempre algo. Esse algo, por muito mais que eu queira saber o que é, não o consigo saber. Quando tenho momentos mais felizes, sozinho, acabo por me retrair e não dizer nada porque sei que os meus amigos, apesar de verdadeiros a maioria deles, não gostam do que me faz feliz. Eles também me dão na cabeça por isso, mas acho que é respeito.

Agora, devo e tais pessoas merecem um lugar específico neste blog que já dura há algum tempo. Não tem qualquer ordem, apenas é a ordem que me veio à cabeça.

O grande amigo bloguista ali do lado do Another Soul in the Open. Ele deu-me e passou tanto tempo comigo que me fez perceber que eu era verdadeiramente uma "esponjinha absorvente de tristeza". Mas também digo que foi com ele que eu falei dos meus amores verdadeiros. Da minha única paixão viva. Dos meus projetos futuros. Dos meus maiores medos. Do que mais mais e menos queria na minha vida.

A mart'jinha... Claro. Essa miúda. Quando eu a conheci, só podia ser uma adolescente do piorio. Nãos e dava muito comigo. E achava-me irritante. Por mais que queira, ela adivinha quase sempre quando eu não ando muito bem. Ela merece o meu apoio sempre que eu o possa dar!

Aquela miúda. Bem, aquela miúda... É uma mulher já. Sei lá o que dizer. Dos adjetivos, passámos às conversas sérias e daí à realidade crua e nua. Pensámos no pior e no melhor, no correto e no incorreto. É a pessoa que eu mais louvo. E de facto é verdade. É a pessoa mais evoluída que eu conheço neste momento. Que tem um mecanismo de regulação interna a todo o nível fantástico! Quem me dera a mim tê-lo. E tem um projeto de vida fenomenal, pelo menos tinha. Agora nem tudo é um mar de rosas. Como é óbvio também há tristezas quando tudo acontece bem. E é ela que faz parte do meu maior medo. Espero nunca a vir perder o comboio. Nem que seja preciso estar agarrado aos ferros da última carruagem para não cair à linha.

Depois, acho que a minha amiga, primeiríssima em tudo pelo seu nome merece também destaque, apesar de me ignorar quando eu a chamo nos intervalos na primeira e na segunda vez, mas também o passado que tive com ela tende a mudar a ideia por completo. Se não fosse ela, agora estava muito mais arrogante do que agora.

E por fim, tenho de destacar uma menina de nome português, mas que eu a trato sempre por um nome francês. Por mais que queira, está demasiado infliltrado no sangue isto já. Esta rapariga é super gira, mas não tem tido sorte com os rapazes. Eu choro com ela e ela chora comigo. Quem me dera viver ao pé dela, na maior parte do tempo. Mas parece que tal não é possível.


E por muito que eu queira ter respeito, cá dentro quando tem de sair, sai. E quando não é possível dizer sempre tudo bem, também se diz mal e critica interiormente e sozinho as pessoas. Mas acabo sempre em respirações profundas para esquecer o que disse.

Não posso deixar de referir que não tenho um grande lema na vida. Apenas quero tentar encontrar a felicidade quando morrer. Dado que quando a tento apanhar, ela foge a sete pés de mim. Por muito mais que digam que eu tenho sorte na vida, coisa que não posso negar, há certos casos que não há sorte. Por muito que achemos bem, não dá. E isso custa-nos a aceitar.

Esqueci-me de há pouco uma pessoa. Uma grande amiga, já com mauito mais idade do que eu. Mas é uma grande e valiosa amiga. Permite-me desabafar quando mais preciso e é uma leitora atenta do blog. Ela também merece um grande OBRIGADO!

E assim, caríssimos leitores chega ao fim mais um post do Ficfacto. Espero que tenham gostado e que nos posts seguintes, o Dupé esteja um pouco mais feliz, ou mais contente. E não esteja ainda a encontrar oque lhe possa fazer bem, dado que o fez não deu resultado!

domingo, 2 de janeiro de 2011

Something....

"Quando sentimos que amamos mais do que essa pessoa nos ama, isso torna-nos um pouco doidos. Bastante doidos."

In Anatomia de Grey, T6, Ep. 17

Nada mais verdadeiro. E acho que chegou o dia de tornar claro para mim algumas situações e sentimentos. Não consigo esperar mais. É agora, neste preciso momento.

É claro que quando estamos apaixonados pensamos em coisas, o que queremos dizer ao outro, fazemos planos para que as coisas corram como queremos, desejamos que o outro seja feliz connosco e acabamos com medo de dizer algumas verdades quando encontramos algum defeito na outra pessoa, ou então, temos vontade de falar ou puxar algum assunto.

Ela é fantástica, mais do que alguém eu alguma vez conheci. Há algum tempo que a conheço e cada vez que descubro um pouco mais dela, parece que tal rapariga é cada vez mais bonita. Mas digo com franqueza que quando reparo em algumas mudanças do que eu estava habituado a ver nela ou a reparar em tal pessoa, o meu estômago acaba por ficar sensível e nos momentos seguintes a eu saber o que mudou (e muitas vezes para melhor) fico com remoinhos em tal zona.

Ninguém me consegue pôr com os intestinos à volta sem ser ela própria, mesmo com as coisas mais simples, como por exemplo, quando me diz que tem de falar comigo - fico tão amedrontado que sei lá o que pensar. Na maioria das vezes acaba por não ser nada de especial, mas até esse ponto chegar... Muita água passa pela ponte.

Depois isso há muito mais. O tempo passa e mesmo que eu o queira parar não posso, não me deixam. Mais cedo ou mais tarde vamos ter de nos separar e mesmo que não nos despeçamos, e por muito que eu diga que é a vida, custa cá dentro.

Passo alguns dias sem fome. Como simples sopas e depois na mesa acabo por inventar qualquer desculpa para me deixarem sair de lá, porque o meu estômago diz que não quer receber mais nenhuma comida. Apesar de eu ter perfeita consciência de que tenho de comer, e horas sem comida no estômago fazem mal, muito mal.

E muito mais, para concluir uma obsessão pela minha melhor amiga, com não sei quantos aditamentos incluídos, onde a impossibilidade acional é demasiadamente elevada para que os sonhos façam efeito.

Quando fico triste, o que me vem à cabeça são os momentos que eu passei com ela menos bons. Quando eu estou mais contente, quero viver de novo todos os momentos que bons que já passei com ela (apesar de não serem possíveis).

Tenho é de olhar para baixo e seguir em frente. Algo difícil de facto, mas que tem de acontecer. Quem me dera não atirar palavras para o ar quando estou de cabeça quente e sozinho no quarto que acabo por me arrepender delas, minutos depois - sim, eu porto-me mal.

Simplesmente, não a respeito: e isso é uma das minhas vanguardas (respeitar o outro), coisa que não consigo agora! Por muito que queira, pareço sempre um guarda-freio a tentar travar o comboio no momento certo para ficar naquele preciso assunto ou tema, não passar além, mais ou então, não a chatear de mais.

Eu em especial sou um amigo muito melguinha e chato. Muito mesmo. Só não quero sentir-me só e como me sentia no básico - mal e sem vontade de nada. E sim, a chave para a mudança não chega. Pergunto-me ainda qual a chave correta. E eu tenho andado à procura dela. Mas ela não chega.

Não partas do nada, por favor....

sábado, 1 de janeiro de 2011

Todos nós temos uma história para contar...

Muitos são aqueles que contam histórias de relacionamentos pensados e que nunca aconteceram ou então que perduram durante anos. Ou ainda, põem-se a relatar dias x ou dias y. Claro que também tenho momentos desses e não são poucos...

Mas a minha história, penso eu que é diferente.

Devia ter eu pouco mais de três anos, quando o centro comercial mais próximo de onde moro era em Setúbal. Sempre que podia pedia à minha mãe para jantar ou almoçar lá. Mas era sempre a mesma coisa, todas as vezes que comia no restaurante do canto. Apelidava-o assim, porque estava no canto do centro comercial. Nessa altura apenas gostava da perna do frango e como qualquer pessoa daquela idade, o acompanhamento era sempre batatas fritas. Vi uma vez o frango ir para dentro inteiro e vir apenas com as pernas, e eu perguntei à minha mãe - "o que fazem com o resto do frango?". A minha mãe respondeu de forma simples, "juntam para depois darem às outras pessoas".

O meu prato vinha meio-cheio e era mais a quantidade de carne do que de batatas fritas. Já era rotina. Estava eu no cantinho do restaurante do canto sentado, junto ao carro dos tabuleiros, com apetite, até vir uma senhora a pedir dinheiro ou então a pedir para nós comprarmos pensos rápidos. Quando via essas situações e a pessoa que vinha pedir aproximar-se de mim, perdia a fome (coisa que ainda acontece agora). Todo aquele banquete na altura, dentro do prato branco ficava ali. A minha mãe comia o prato dela e mais um pouco do meu prato, e íamos embora. Enquanto não saísse dali e não visse outra coisa que me cativava ficava perdidamente a olhar para a senhora a afastar-se da nossa mesa... E a ser ignorada pela maioria das pessoas que ali estavam a comer.

Depois disto, uns mesitos mais tarde, entrei para a catequese. Foram longos anos em que me sentia tranquilo e em paz. Ia nos primeiros anos à missa ao domingo de manhã. Já era rotineiro e eu gostava. Sentia-me bem com tudo isto. Deixei de ir ao restaurante do canto, em Setúbal. Pedia cada vez que ia ao tal centro comercial para não ir lá, porque ao já ter noção de quanto o dinheiro podia ser difícil de ganhar (desde quando pedi à minha mãe um Game Boy COLOR Verde que custava 16.750$00 e tal senhora me deu a escolher entre um mês de comida ou o Game Boy), não queria deixar comida no prato se visse alguém a pedir.

A catequese. Foi lá que eu fui batizado. Em frente a todos os meninos da paróquia, eu a receber a bênção com dez anos.

Depois disso, até quando vejo pessoas nas ruas me sensibilizo ao ponto de ficar triste bastante tempo. O que me distrai é ver autocarros ou outro meio de transporte ou quando era mais pequeno ver camiões do lixo (sim, porque era fanático por camiões do lixo - e é por isso que não me mete impressão alguns odores, com a idade passou).

E com tudo isto, e dado que não via o meu pai há imenso tempo, a minha mãe era o centro da minha vida. Sempre que podia ligava-lhe, de manhã, à tarde, à noite - era o que eu mais gostava de fazer e apenas dizia olá!

Inevitavelmente continuei a crescer e fiz o ciclo preparatório. Por muito que eu quisesse sempre tentei ajudar os alunos mais necessitados e referenciados por maus tratos ou poucas possibilidades económicas (ainda há pouco tempo quando me perguntaram se eu conseguia angariar alguma pessoa para ir a Roma connosco eu respondi que me dava mais com pessoas que à luz da República Portuguesa tem um estatuto social (que horror de palavra) inferior e que não podiam ir a Roma - disse isto com convicção e fé de algum dia podermos ajudar de forma muito mais justa os mais necessitados!).

Com mais ou menos sorrisos, a minha cara de contentia, com a vida passada, pouco tinha motivos para sorrir. Tinha-me tornado sério. Não tinha vontade mínima de brincar ao que os meus colegas brincavam e acabava por tapar todas as minhas tristezas com trabalhos de ajuda em áreas da escola ou em projetos. E isso ainda acontece agora.

No século XXI, no ano de 2011 que agora começa, pouco há feito, mas muito há a fazer. Não é por existirem mais medidas de austeridade que a sociedade mais se equilibra (apesar de muitos dizerem que as medidas são necessárias). São as pessoas que se têm de entre ajudar. É o povo que se revoltou em 25 de Abril de 1974 contra Marcello Caetano que se tem de mexer e tentar de forma altruística e filantrópica ajudar os outros de forma correta.

Não é com elogios ou palavras doces que me faço de contente. Apesar de adorar ouvi-las, não gosto minimamente que me agradeçam. Porque se eu fiz e por vezes, com muitos custos meus e chatices que passei para ajudar, foi porque quis e consegui. Isso sim dá-me prazer pessoal.

E repito que gosto das palavras queridas que me dizem quando ajudo. Mas não é só aí que eu ou qualquer outra pessoa precisa. São todos os dias. Quando vimos que alguém não está bem, mesmo que já saibamos a causa e possível consequência. E não podemos julgar as pessoas pelo seu exterior. Outra coisa que acontece bastante no nosso país.

Como eu, uma pessoa de personalidade forte, mas de gancho (que chora se for preciso todos os dias, quando se sente ou só ou quando não consegue o que pretende, uma pessoa que tem objetivos e com o país que temos não conseguimos alcançá-los e com a sociedade que existe nunca as possibilidades chegam ao pé de nós) existem mais pessoas, e sim... Nós fazemos parte do grupos das melhores pessoas que andam por aí. A pena que tenho é que tais pessoas não vejam o seu trabalho valorizado. A qualquer nível que seja. Por muitas vezes, o obrigado é mais uma palavra feia, o sorriso é escasso, e o "passou bem" não é claro, além de que as prendas materiais não são boa opção. O sentimento é que conta! E esse sim, é importante para mim e julgo eu que também é importante para pessoas parecidas comigo.

No fim de contas, quem muito tenta ajudar, nunca ou muito tarde vê o reverso da moeda. Isso mói-me imenso. Mesmo bastante e nos últimos tempos ainda mais, mas ao menos ao darmos um murro na mesa podemos dizer que ajudámos tal pessoa. E o que mais nos entristece é não perceber o que os outros fazem por nós!

O início de um novo ano de maneira diferente

365 dias tinham passados e mais uma quantidade deles tinha eu pela frente. Não me apetecia minimamente ir para um restaurante, vestir um fato e uma gravata, sendo esta última roxa, ter a etiqueta do "bebe por este copo isto" e minimamente queria estar ali naquele ambiente inrespirável.

Estava perto da praia, mas o frio também apertava. Fugi. Saí de ao pé de quem me aturou anos a fio, desde pequeno. Peguei na minha trouxa, corri pela escada abaixo, passei a estrada e sentei-me no areal junto da lagoa.

O mar estava revoltado, nem eu me atreviria ir para junto dele. Ali estava bem, as águas ainda tinham alguma corrente. Lá perto, estava um café cheio de gente. Alguém me viu e me ofereceu um copo de espumante. Enterrei o pé do copo na areia e com os ponteiros do meu relógio gritei sozinho o novo ano. Tinha sido diferente, no escuro, sem lume para me aquecer, sem companhia por livre e espontânea vontade, passei ali naquele sítio o ano. O ano e a década.

Um minuto depois das doze badaladas da igreja da freguesia onde estava, bebi o que estava no flute e levantei-me, atirei o copo para dentro de água com areia, como sinal de ano novo, vida nova, mas acabei por me sentar a apreciar o fogo de artifício que restava.

Por muito que eu mais quisesse fazer, não podia. Estava frio, a Lua mal se via. As nuvens já a cobriam. Ainda com grãos de areia, saí dali a correr, e ao pé do poste da luz, antes da passadeira, voltei-me para lagoa, pisquei-lhe o meu olho esquerdo e subi com a maior rapidez possível a rampa que dava acesso ao outro lado do restaurante chique.

Lá só estive mais meia hora. Dancei um pouco é certo, mas aquele sentimento que tive na praia, bateu recordes! Foi o melhor de todas as passagens de ano. No escuro, sozinho, a festejar uma mudança que é mínima e que traz ao país tantas medidas de austeridade.

No fundo, aquele piscar de olhos era vontade de tanta coisa, mas era escuro... E seria por mais umas tantas horas. Muito não podia fazer eu.