terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Future Thinking #4

A necessidade de ele sair de casa era enorme. Não se conseguia concentrar em quase nada. Os projectos que ele pensava eram de baixa qualidade, não existiam novidades para ele contar e a família seguia na rotina habitual.
Desta feita, aproveitou o facto de um Decreto-Lei que autorizava as permutas entre Universidades de Portugal, desde que o código do curso fosse igual. Ao conseguir trocar a cidade onde estava por uma do interior, longe da família e dos amigos, longe dos transportes que gostava e da preocupação no geral, tornou-se muito mais adulto.

Trocou as horas do dia. Ele já não acordava à sete e se deitava às dez ou às onze. Preferia acordar às três da madrugada, estudar até à hora de ir para a faculdade, almoçar por lá e assim que chegava a casa ceava qualquer coisa e metia-se na cama até às próximas três da manhã.

Era uma rotina completamente desregulada de toda a vida actual e portuguesa.

Ele vivia numa praceta, perto da faculdade. Um dia, acorda à sua hora normal e põe-se à janela, coisa que já era habitual, visto que ele mantinha a vida programada ao minuto. Ficava ali a vislumbrar a praceta e pouca vida humana existente a tal hora. Quando chovia, ao invés de abrir a janela, respirava para os vidros e ao ficarem embaciados começava aí a pensar no que iria estudar a seguir. Nos outros dias pegava numa caneca alaranjada que ele tinha levado para lá e bebe o seu leite – parte do pequeno almoço.

Após as três horas e pouco de estudo acaba por se vestir, perfumar-se e sair, em direcção à faculdade. Os autocarros tinham-se tornado um transporte que ele mal usava. Não precisava deles minimamente.

Ao chegar a tal local de estudo, ignorava todas as vida académicas existentes até ao dia em que lhe ofereceram um crachá de aluno da faculdade. Aí, passou a dirigir-se mensalmente à Associação de Estudantes mensalmente para pagar a quota e, tendo como benefício um check-up semestral. Algo que ele sempre achou bom, e ainda longe da família, era mais uma quantia que se poupava para os afazeres diários.

Acabava por chegar às aulas e, anotava o que achava importante, mal falava com quem tinha ao lado, que por coincidência era o seu vizinho do lado no prédio onde habitava. Mal terminavam as aulas ia à cantina buscar o seu jantar (que seria o almoço dos restantes alunos) para tomá-lo por volta da hora do habitual e rotineiro lanche da tarde normal.

De seguida partia para casa, quando não tinha mais obrigações e ao chegar a tal sítio tão próprio dele, bebia uma caneca de leite e deitava-se. Quando alguma obrigação o prendia, resolvia-a e de seguida acabava pela mesma rotina. Mas apenas estudava de madrugada com o cérebro fresco.

Uma vez, uma colega dele, que se sentava à sua frente pergunta-lhe o seu endereço de e-mail para trocar apontamentos. Ele dá-lho, mas a colega nunca consegue ter uma resposta imediata. Apenas a horas não tão normais, mas acabava por as ter. Certo dia, em vez de enviar um pedido de apontamentos, manda-lhe uma mensagem electrónica questionando a tão diferença perante a sociedade. Ele não lhe respondeu. Ficou com aquele enorme segredo para ele.

Ao manter dentro do seu castelo, de janelas fechadas e portas cimentadas, nas férias, antes de iniciar o estudo para as frequências, responde à colega:

“Olá. Não aches estranho tal hora, porque me habituei a viver assim. Estava cansado e farto de viver coo as pessoas normais viviam. Assim consigo ter um maior rendimento a nível académico e acabo por me esquecer de toda a vida paralela, seja ela sentimental ou racional, de diversão ou de responsabilidade. O facto de estar acordado de noite faz-me, além de ter vontade de estudar, reprimir os meus sentimentos passados, fugir à família que tenho em casa. Não que a família fosse má, porque não o é. Mas sim, porque se me quero tornar muito mas muito independente cabe-me a mim, nesta fase, ainda que não trabalho, lembrar-me dela, com conta e medida. Esta foi a medida que me ocorreu e por acaso é boa.

E com certeza deves ter ouvido os rumores na Faculdade. Apesar de eu não me pronunciar sobre eles, sim eles são verdadeiros. Tenho o quarto cheio de fotografias de transportes e o escritório no meio com uma fotografia de uma amiga que ficou por onde eu vivia antigamente. E além disso, também sou crente. Tudo isto tem uma razão de ser: os transportes, eu sempre amei transportes e aqui não preciso deles. Assim consigo lembrar-me de bons momentos que tive neles e acabar por adormecer de forma tranquila. O facto de ser crente, sempre o fui. Mais ou menos, dependente das ocasiões, sempre acreditei em algo superior À existência do homem. E por fim a fotografia. Não, não vale a pena acreditares nos rumores (de segunda versão) que correm pelas aulas, porque esses não são verdadeiros. Não, não é a minha miúda, ou nada parecido com isso. Apenas é uma amiga, mas uma excelente amiga. A transposição dos meus sentimentos não ocorreu da melhor forma e eu também não queria de maneira nenhuma estar a fazer e pensar algo que me pudesse ajudar para ver se ela alguma vez iria olhar para mim. Por muito que eu quisesse ou achasse benéfico para a minha vida (que o era, e não estaria aqui se tal tivesse acontecido), fugir foi a melhor solução. E acabei por me contrariar. Mas tanto a fotografia me mostra momentos felizes, como momentos mais chatos e pouco giros. Daí a contrariedade.

Sou apenas uma pessoa diferente cara colega, se precisares de mais algum apontamento, já sabes que to dou, mas… Terás a resposta por volta das três da manhã.

Cumprimentos,

O teu colega.”

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Da minha janela eu vejo #5...

Com o meu velho hábito de acordar cedo e de abrir os cortinados vejo um quarto no prédio em frente ao meu. Lá, numa cama de casal, estava deitado um rapaz. Um vizinho meu que me falava por vezes e, que era impulsionador de muitos projectos não só no concelho, mas no distrito. Ele também tinha o vício de abrir os cortinados quando acordava.

Pouco passava das cinco da manhã e eu já estava a pé, com os dentes lavados e com o que restava dos pacotes de leite na caneca, acompanhado de uma banana, já com marcas de negridão, quando olhei para a janela. Já o meu vizinho se mexia na cama, e tinha ligado o candeeiro da mesinha de cabeceira.

Era raro tal acto, ele nunca tinha ligado tal candeeiro. Então, curioso como sou, pus-me a olhar à janela. Apesar de ter ouvido os primeiros autocarros a passar na rua próxima da minha, vi-o a levantar. Ele abriu o cortinado e desejou-me bom dia, como sempre fazia quando me via na janela a tomar ar pela manhã. Depois ele saí do quarto e foi tomar o pequeno-almoço penso eu, não vi.

Mas uma coisa era certa, às sete e dez apagava a luz do quarto e dois minutos depois, estava a sair de casa com uma pasta na mão esquerda, sempre a correr (não no sentido de dicionário, mas sim num caso de passo rápido e de costas bastante direitas). Ele ia para a escola aprender e trabalhar, ou então apresentar os seus projectos, enquanto que eu ficava em casa todos os dias, 7 dias na semana. Não saía. Só saí de casa um mês, em Novembro do ano passado, de resto, sempre tive aqui fechado, ao contrário dele.

Pouco depois da hora de almoço ele voltava, num passo mais calmo, até parecia mais cansado, mas não me via. eu tinha fechado o cortinado e estava a vê-lo por dentro. Ele era o meu amigo. Era a única pessoa que falava comigo. A não ser uma vizinha do mesmo prédio, e do mesmo andar que por vezes me dava algumas as compras que fazia, porque tinha pena de mim.

Lá mais para a tardinha, ou para a noite, ele chegava à Internet e eu sempre com tal programa de conversação ligado. O meu amigo apenas tinha metido conversa duas, três ou quatro vezes comigo. Desde o secundário dele, ao que parece. E quando o fazia, eu sempre soube que era por mau sinal. Na primeira vez, ele disse-me olá. E eu perguntei se ele estava bem. Ele respondeu-me que sim, mas eu, ao olhar pela janela, pude ver que ele estava triste. Mas ao invés de lhe dizer tal visão, engoli saliva e continuei. Ele saiu da Internet pouco tempo depois de eu ter olhado pela janela. O que eu vi foi ele a chorar. E depois, desligar o computador.

E sempre que ele metia conversa dizia que estava bem, mas acabava por fazer o que fez da primeira vez.
Ontem, ele disse-me de novo olá. E eu num tom mais agreste perguntei com quem é que ele se tinha chateado. Ele apenas me respondeu que daquela vez não estava chateado, mas sim apaixonado. E tal paixão tinha-o deixado triste, desconsolado, sem vontade de continuar. E eu, tentando ser amigo, apesar de apenas ter sorte a falar com autocarros e outros transportes, tentei dizer-lhe que não era o fim do mundo e que nada nem ninguém o poderia deitar abaixo.

No entanto, como é óbvio, ele não iria ligar a uma pessoa que não sai de casa, não é inteligente, e apenas se interessa por transportes públicos. De forma disfarçada disse-lhe isso. Ele respondeu-me dizendo que as mãos da pessoa amada eram sensíveis às mudanças de temperatura e que contrastando com as outras pessoas, o calo dela era giro e condizia com as mãos. E lembro-me de ele me dizer mais cinco ou sei características, como a altura, a forma de estar e maneira de ser da pessoa amada dela. E eu deixei-o falar até ao fim. Enquanto ele escrevia, espreitei pela janela. Desta vez não vi um rapaz com cabeça baixa, ma sim bastante direita, com um sorriso na cara a escrever acerca de quem lhe fazia sentir bem.

Entretanto, nessa conversa, chegou o momento de eu lhe perguntar se tal rapariga gostava dele. E ele, como rapaz forte que sempre me pareceu, disse directamente que não. E eu olhei pela janela: o sorriso tinha dado lugar a uma cara triste, sem vontade de fazer nada. Mas ele não chorava. Apenas ficava triste e com ar de quem chorava. E em vez disso, enchia os pulmões de ar e depois suspirava (pelo menos é o que parecia, ao longe não podia ouvir).

Despedi-me dele com um até amanhã, com um símbolo indicando um sorriso, ao qual ele respondeu que "não, ela e eu não. Não combinávamos minimamente. Eu apenas sei trabalhar. Apesar de querer ter um relacionamento com ela e de se calhar ter de fazer mais para conseguir algo, não sei o que fazer. Acho que seria trabalho perdido. Obrigado".

sábado, 25 de dezembro de 2010

Now...

É como tivesse aquela conversa na cabeça. Lembro-me praticamente de tudo. Foi tão gratificante para mim, nas vésperas de Natal.

Mas tudo tem um mas,  e por muito que eu queira, já estava à espera do que ela me disse. Sempre assumi esta paixão actual como platónica. E sim, ela também tem razão: uma paixão platónica é má, porque já temos consciência de que é algo inatingível, ou à distância, ou desprovido de sensualidade. Neste meu caso, é a primeira hipótese.

Claro que ela nunca iria olhar parar mim - com franqueza que é a primeira hipótese, dado que não estamos longe um do outro, e sensualismo é sensualismo.

Naquele momento, senti-me aliviado. Tinha-lhe estado a mentir durante dois ou três dias. Já estava pelos cabelos com aquele fantochada (sim, porque não deveria ter tido vergonha de assumir perante a pessoa que mais gosto da vida (tirando a família) que a amava - fui estúpido. No entanto, uma hora depois, já eu a ver TV na sala cá de casa, a contentia e o alívio deram lugar à tristeza. Nunca me tinha sentido tão triste como naquela noite.

Porquê? Acho que desta vez tenho uma razão plausível para tal facto: Esta paixão, apesar de impossível é verdadeira, como da outra vez. Mas agora, não foi por qualquer acto que ela teve comigo que me deliciei pela rapariga, mas sim pelo que ela é como ser humano tanto na parte exterior, como no mais escondido, lá bem dentro, no interior. E esta última parte é a que eu ligo mais (e de facto é muito bonita a dela). Por isto, senti-me tão triste, não tinha conseguido que alguém tão bonita me amasse também.

E de facto, ela acaba por ter razão: eu não chego aos calcanhares dela, ela é muito mas mesmo muito melhor do que eu, e eu não chego minimamente para ela, apesar de não ser o tipo de rapazes que ela gosta. Por muito que quisesse só pela parte exterior, já não dava.

Com tudo isto, todos os se's que fazemos na nossa cabeça, com um sorriso meio simples (no meu caso), ou os suspiros que indicam pensamentos no meio do dia, em qualquer sítio, ou distracções, vão e ficam sem sentido. O andar de mão dada, o poder dar abraços, poder-nos ajoelhar no parque ou em qualquer outro sítio público e pedir a rapariga vezes sem conta para isto ou para aquilo, ou ainda.... Estar feliz. Todos esses planos vão, uns de forma mais fácil, outros de forma mais difícil - mas assumo, ainda estão cá todos.

Por mais uma vez, e se calhar para o todo o sempre (não sei, não consigo adivinhar o futuro), recebi um não, e só por acaso, de uma rapariga que estimo imenso! Para muitos que tivessem no meu lugar, não perceberiam o que ela disse, mas sim, ela rejeitou, estava escrito nas entre linhas - quem a conhece, sabe disso.

O que me resta? Respeitá-la e tê-la como amiga, ou melhor, excelente amiga, ao longo dos tempos e não deixar fluir este bicho maluco da paixão de novo (algo que é difícil, mas tentarei fazer), também me resta ignorar o que os outros dizem, porque nenhum dos meus colegas de escola sabe o que eu sinto na realidade por ela. Podem imaginar e estar certos, mas não sabem a verdade, por mim.

E no fim vem sempre o mais difícil: ela vai construir a sua vida e por muito que me seja difícil (espero que na altura não seja - e já tenha passado a crise adolescentícia), tenho de a aceitar com qualquer outro rapaz, desde que ela se sinta feliz e realidade (sim seu sou filantrópico, mas mesmo bastante). E olha... é assim.

PS: A realidade não nos deixa folgas para pensar muito. Ou estamos tristes com tudo isto, ou andamos confusos. Sinceramente não sei o que dizer acerca de como me sinto agora. O meu maior desejo (e sim, é recente isto que sinto) não é possível realizar-se. Por muito que queira, é assim a vida. Ao menos ela que se lembre de mim com um sorriso nos lábios, já é alguma coisa. Não vale a pena fazer pedidos impossíveis, penso eu. A nossa vontade não é realizável. (Tenho pena..... mas o bem-estar de ela é mais importante do que qualquer outra coisa). Ah, e também, não devo ser bom namorado para ninguém.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Mini-frase #2

Eu tenho medo da solidão..... E tenho medo de te dizer a verdade. Sinto-me devastado...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Julgamento

Era uma manhã, onde a chuva variava com o aparecimento do Sol. E eu estava sentado numa sala de audiências. A fazer não sei muito bem o quê, dado que à luz da lei, estar apaixonado é algo que não é crime, pelo menos à primeira vista.

Calado, sem plateia, apenas com os colectivo de juízes e o advogado de acusação, visto que não quis advogado para me defender, exactamente às 8h32 começou a sessão, após as tradicionais pancadas dadas pelo juiz presidente.

Fizeram-me imensas perguntas. Lembro-me de todas:

Juiz (J): Ao que parece o senhor está aqui a ser julgado porque se apaixonou, é verdade?

Eu (E): É verdade, sr. dr. juiz.

J: E o que o levou a ficar perdidamente enamorado por tal rapariga?

E: A sua cara, de firmeza mundana. O cabelo bonito com a água de um rio despoluído. O pensamento de uma pessoa adulta, com reacções justas na maior parte das vezes. Um corpo esbelto sem um único defeito que eu possa ditar. E o interior, cada vez mais bonito. Quanto mais para dentro eu avanço no que eu conheço da dita rapariga, mais feliz e contente fico.

J: Acha bem tudo isso que acabou de dizer?

E: Sem dúvida. Eu até posso já ter ouvido e ter tido respostas imensamente negativas, mas o amor quebra todas as rotinas diárias. Não nos deixa ficar tristes. Apenas com medo, quando não dizemos à pessoa amada que estamos apaixonados por ela.

J: Não arranje desculpas onde elas não existem, sr. réu. Explique-me, porquê? Porque é que se apaixonou por uma rapariga que, simplesmente, é uma rapariga na sua vida?

E: Se calhar é porque essa rapariga não é simplesmente uma rapariga na minha vida, sr. dr. juiz.

J: Não aceito essa resposta. Seja mais claro!

E: Sim senhor. Assim serei. O amor não escolhe idades nem pessoas. Quando olhamos e vimos que estamos apaixonados por aquela pessoa, podem fazer tudo, mas só nos interessa ela e mais ninguém. Por muito que queira pensar no passado, coisa que faço por vezes, que me faria estar quieto e não estar aqui sentado possivelmente, não. Não posso fazer uma coisa dessas. O presente e o sentimento do agora é que é importante. Não o que já passou. Não o que já me disseram não. E muito menos, o que já aprovaram.

J: Mais uma vez não foi claro. Esta é a última oportunidade que lhe vou dar.

E: Mande-me para a cadeia. Prenda-me lá. O amor não é explicável. Eu não o consigo explicar. E não quero. Eu simplesmente quero amar quem amo. Estar apaixonado por quem estou apaixonado. E depois é que vem a tristeza, quando ouvir um não da boca daquela rapariga. E se o sr. dr. tivesse lido no meu processo que apresentei a este tribunal veria que eu sempre indiquei esta paixão enorme como platónica. E eu também não consigo explicar o platonismo. É algo abstracto. Meta-me dentro da cadeia. A pena que quiser. Eu só não quero que ela me veja em tais condições. E dessa forma, que não vou poder assumir perante a pessoa que é ela a minha paixão, faço figas para que tal rapariga componha a sua vida no futuro, sorria, e seja feliz. E eu, ficarei, num espaço que não conheço, de tal forma triste porque além de não ter tido coragem suficiente para lhe ter dito a verdade, fui um ignorante ao ponto de amá-la agora, e além do mais, não me soube defender convenientemente perante este tribunal.

J: Basta, eu não quero ouvir mais atrocidades. Claro que a rapariga lhe ia dizer que não. Já se viu ao espelho? Já rebobinou as cassetes para ver o seu comportamento?

E: Sim, e não seria namorado bom para ninguém.

J: Está preso por 25 anos, com a agravante de executar trabalho comunitário por mais 15 após a prisão preventiva.

E: Por fim, interponho recurso. Mas deixem-me viver só mais uma vez, dizendo ao mundo fora daquele tribunal à porta, que fui parvo em estar calado, mas o erro foi meu. E não é por um julgamento que me vão poder decidir se amo ou não, quem eu realmente amo. E se não aceitar recurso, muito bem, mande-me prender de imediato. A força que tenho não me faz arrepender de nada do que disse ou fiz! Apenas de ter mentido.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Estava eu frio e molhado por Portugal...

Passeava eu por Lisboa num dia frio e chuvoso. Estava de cachecol, um chapéu de chuva minúsculo e ainda com umas botas que se ensoparam a meio do dia. Conclusão: Precisava de um carro com uma certa urgência.

Estava eu parvo, dado que um veículo não parava de apitar na rua onde eu seguia. Com a chuva que estava e ainda, dado que a rua estava cheia de gente não liguei. Até ao ponto do carro passar por mim e parar uns metros à frente. Quando eu vi quem conduzia, fiquei com a boca completamente com a forma de peixe, com os dentes dos dois maxilares à mostra.

Acabei por não aceitar a boleia daquela pessoa amiga. Mas baixei a cabeça e sorri, pensando que o Natal tinha-lhe trazido "antecipadamente" a prenda que algumas pessoas desejavam....

Mas dado que tal pessoa me detestava quando eu me portava mal e não me via há vários e longos minutos (e sim, muitos mesmo - é só para parecer que é pouco tempo), acabei por ir entrar na estação do metro mais perto. E lá vim de barco mais uma vez, com o rio cheio de nevoeiro.

O texto número 108

Pelo que parece este é o texto número 108. Para 108 temos imensos significados: uma carreira em Lisboa que vai do Campo Grande às Galinheiras, e também devemos ter em número em imensas carreiras pelo mundo fora.

Mas por ser o 108.º texto é algo especial? Não, mas é porque se dividirmos o número em um 10 e um 8, a soma dá algo muito interessante 18, e daí tiramos uma carreira no Barreiro, que vai da Esc. Alfredo da Silva ao Cabeço Verde.

No entanto, nem é pelo texto ser o 108.º que eu estou por aqui a escrever. Simplesmente estou triste. Acordei hoje assim, sem mínima razão aparente. Não me apetecia mesmo nada andar de barco, fazer a travessia para Lisboa, transporte e cidade que tanto adoro. Quando abri os olhos nessa manhã, recusava-me a sair da cama. E ainda por cima era segunda-feira, mas teve de ser.

Como sempre, quando vou acompanhado pela família, perdi o autocarro e o barco e ainda reclamei das pessoas não saberem deslocarem-se para o barco (tudo ao relantim...).

O meu pensamento cá dentro, que se manteve para mim todo o dia foi tentar encontrar alguma doença explicável pela Medicina no dias de hoje que me indicasse o que eu tenho ou sofro. Comecei pela obessessividade, passei pelo autismo e até cheguei a questionar-me de novo acerca da minha vida humana: será que eu sou um humano?, apesar de ter pais humanos (penso eu), ou ainda pensei que foi o minuto e a hora errada do dia errado do errado ano em que nasci que fez com que eu fosse assim, ou ainda o ambiente que tive (que foi bom e mau ao mesmo tempo)?

Sinceramente não sei. Era bom que me diagnosticassem-me algo, ao menos podia ser tratado, dado que para curar apenas podem ser curadas infecções ou algo que requeira tratamento cirúrgico.

Mas não, parece que nada existe pelo menos que um leigo na matéria entenda.

Mesmo que suspire, continuo a pensar nisto de forma tão evidente que me chateio e me entristeço ainda mais.

Parece que ando com olhinhos de carneiro mal morto por aí....

Alguém pode ajudar a fazer com que a Medicina evoluía?????

domingo, 19 de dezembro de 2010

LIIMH

Era manhã, como todas as manhãs e estava frio como estava em todas as manhãs de Inverno. O céu estava carregado, mal se via o Sol, ou melhor, o Sol ainda não tinha nascido. Quando espreitei pela janela do meu quarto vi um manto de neve a cobrir toda a rua (carros, passeios, estrada, telhados, varandas e até o jardim). Neve já tinha visto muita, mas na minha rua nunca. Era a primeira vez, mas eu tinha de ir apanhar o autocarro àquela hora certa e não a outra e não podia nem tinha tempo para brincar com a neve acabadinha de cair do céu.

Por muito que quisesse, quando cheguei à escola neve não havia, dado a proximidade do rio, a temperatura não tinha descido o suficiente para nevar ali. E então, nada melhor do que seguir a minha rotina habitual e pôr-me no quentinho do meu gabinete.

Naquela manhã, na estúpida fase em que estamos acordados, mas não nos apetece sair da cama, mas nem sono já temos (onde apenas queremos sonhar mais um bocadinho com o sonho da madrugada ou então sorrir por algo feliz), veio-me à cabeça a palavra paixão.

E sim, de facto estou apaixonado. Mas... Mais uma vez tenho um anjinho no meu ombro esquerdo a pensar coisas e a mandar argumentos e um diabinho no meu ombro direito a influenciar tudo o que o anjinho diz. Se formos a ver, seguiria os conselhos do anjinho, até que os ossos da minha coluna vertebral estão mais para a esquerda do que para a direita e até sou canhoto.

No entanto, não. Apesar de ficar ali a pensar no que fazer, se a paixão é mesmo verdadeira, ou então sou eu a relembrar factos do passado recente e antigo, a conclusão a que chego é que tenho de me despachar e acordar. Com tudo isso, só no meu gabinete quentinho é que volto a pensar no assunto.

De facto, não faz sentido enganarmo-nos. E se está cá um bichinho do amor activo, nada melhor do que o pôr de fora. Como me dizem, o não está sempre garantido. Neste caso, e aplicando conhecimentos de Psicologia, posso associar ainda, uma variável parasita (e atenção que o amor não é nenhuma experiência), o meu grande medo. Desde o meu Ensino Básico que eu fiquei com medo de poder amar livremente. E por isso, o anjinho e o demónio, digo eu.

Então, tenho de pensar. Se não me quero enganar e não me quero medo, o melhor a fazer é ser o mais directo possível, mas ups... Parece que o demónio faz das suas e me faz lembrar das tampas que me deram. E com tudo isso, eu mantenho-me quietinho no meu cantinho, com desculpas estonteantes, crises adolescentícias parvas e caras estúpidas quando penso no amor. Até pode fazer parte da idade, mas é de mais já.

Por muito que possa chorar ou dizer "que estupidez", ninguém vai olhar para mim, eu olho para uma rapariga. Ela é perfeita no meu ponto de vista e é a miúda dos meus sonhos. Mas parece que ela me torce o nariz nisso.

Tentando estar sem anjinho e sem demónio, coisa que é difícil e de coração bem aberto, o mais que posso fazer é ser sincero, verdadeiro e justo, perguntando se ela quer ter algo comigo.

Mas adivinho a resposta, (mau já tenho aqui outra vez os meus maus conselheiros), mas não interessa,

"Do you want it?"

PS: Naquele dia, a neve não derreteu, o dia estava tão frio que quando voltei da escola, peguei num pedaço de neve e esfreguei-o na cara. Estava tão fresco e molhado, mas quando cheguei a casa, já nem disso me lembrava. Tinha os meus maus conselheiros darem-me cabo da cabeça com a história do amor.´

Realmente, que dia este

sábado, 18 de dezembro de 2010

Não, não fui ao concerto. Mas ainda bem!

E eu que estive a um passo de dizer à minha mãe para ir comprar os bilhetes para o concerto da Lady Gaga do passado dia 10 de Dezembro.

Se eu sempre depois de saber que não ia estar sentado no "Balcão" me intriguei a ir, e sempre disse que não, agora é que fiquei contente por não ter ido.

Em primeiro lugar porque não seria boa companhia, depois porque me sentiria deslocado - dado que o meu estimado amigo que me convidou tinha as suas pessoas convidadas que eu não conhecia.

E é por isto que eu fiquei contente. Por eu não ter ido, pôde o meu tal amigo ficar feliz com a vida dele!

Agradeço-lhe o convite, e se o destino marcou o facto de eu não ir, por algum motivo era. E ao menos.... o motivo de eu não ir foi recompensante.

E eu que não ligava a nada e que pensava que o facto de eu não ir seria bué secante para mim, o que não foi, fez-me ver que, mais uma vez, existe uma relação entre os sim's e os não's que dizemos ou fazemos e que tudo está destinado na nossa vida.

Mais uma vez Parabéns para ele!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Uma solução

Sim, a maneira mais correcta de estar ocupado é ter uma namorada a sério. Quando penso nisto, tenho de ver todos os prós e todos os contras... Mas no fundo, todos eles se entrelaçam e um pró pode passar a ser um contra e um contra pode ser um pró.

Vejamos... Uma pessoa com o meu feitio, que gosta de acordar cedo e de se deitar relativamente cedo, uma pessoa que é fanática por transportes, gosta da escola, não é actual ao nível de muitas ideias, tem o cabelo à século XX e tem uma altura média. Então, temos uma pessoa que é mais nova do que os seus amigos, que tem gostos e hobbies estranhos e que não é actual quanto ao seu visual exterior. Ou seja, pontos para ter uma namorada a séria nada.

O interior. Para mim conta muito, mas de facto, o que interessa para a maioria das pessoas é o exterior. Por dentro, até me aproveito. Tento ser responsável e ajudo quem merece e muitas vezes quem não merece também. E os outros são a minha palavra de ordem, apesar de todos os pontapés que possa vir a levar ou que já levei. Então, algo de bom.

Depois temos o passado e a disponibilidade para amar livremente. E neste ponto, complicamos as situações. Estava eu no 9.º ano. Numa sexta-feira à tarde. Estava eu a tentar saber o resultado do que tinha dito a uma rapariga da minha turma, quanto ao "pedido" de andar com ela, quando a vejo a aparecer com outro rapaz, assim do nada, de trás de um bloco de aulas. E o que ela me faz, levanta-me o dedo do meio da sua mão esquerda, dado que a direita estava entrelaçada na mão esquerda do rapaz, dando conta que se estava puramente borrifando para mim.

O secundário. Até foi bom a nível amoroso. Apesar de não ter tido nenhum relacionamento daqueles explosivos, apaixonei-me realmente. Mas por ser um amor tão verdadeiro e sincero, andei por aí a vaguear num espaço escola durante algum tempo. Eu considero saudável tal vagueio, porque me fez abrir os olhos.

Veio uma miúda sim, que me apanhou o coração durante um mês. Não me arrependo do que se passou entre nós, mas sempre estivesse na ideia que ela não era a ideal para mim. E a pior questão é: quem é que é o tipo ou género de raparigas ideais para mim, uma pessoa tão esquisita?

A resposta acaba por ser simples. Bonita por dentro, sincera, verdadeira, justa, leal, simpática, disponível para aprender coisas novas e que goste realmente de algo em mim, até que seja uma ínfima coisa, mesmo que seja pouco visível. Não me faz diferença que seja baixa ou alta, de cara x ou cara y, de pés grandes ou pequenos. Desde que me perceba, algo que também é importante, serve. O problema é ter alguém assim. As hipóteses são mínimas e além disso, só a parte de me compreender demora imenso tempo.

Quando passo junto da escola onde fiz o Ensino Básico o que me vem à cabeça é aquele dia, aquela sexta-feira. E no secundário, quando vagueio naqueles corredores sozinho, o que penso é como seria eu se tivesse namorada.

Sinceramente.. E depois de tudo, é difícil, muito difícil, porque como digo bastantes vezes, o primeiro contacto comigo é um choque: ou se gosta ou se detesta. E a partir daí as pessoas vão começando a detestar mais, à medida que me vão conhecendo [ou seja, nada de amor verdadeiro com detesto-te].

Por isso, mesmo que acorde com vontade de ter uma excelente rapariga, tenho de continuar como quase sempre estive, solteiro, descomprometido. O que sei é que o que passei no passado fica cá marcado e isso pesa, tanto para amar, como para esquecer, quer queiramos quer não, de maneira x ou de maneira y, com ou sem sorrisos.

O que mais posso dizer... Obrigado amigas e amigos que me aturam dia após dia, semana após semana, porque esses sim são os meus companheiros!

PS: Desta forma, tenho de me ocupar de forma alternativa, dado que mesmo que sinta algo por alguém cá ou lá, que seja amor ou apenas atracção, temos sempre além de receio de perguntar, uma questão a fazer... Será que é amor verdadeiro?

sábado, 11 de dezembro de 2010

Mini-frase #1...

O silêncio pode importar muito, mas por trás da tristeza que pode trazer, mostra-nos uma face sorridente. E essa sim, é boa.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A melhor prenda de anos...

Estava eu sentado num cadeirão num quarto de hospital a visitar um amigo que está em fase terminal. Não por ter tido cancro, mas porque a sua vida, de forma natural, estava a chegar ao fim e, o dinheiro levou-o para uma cama de um privado e bem organizado hospital para lá perecer.

Parecia que escutava as suas memórias, e como sempre gostei de mistérios e já lá vão uns bons e largos anos, tomei particularmente atenção àquela recordação.

"Era o que eu queria, mas é impossível. Não faz minimamente sentido e tenho estado confuso dia após dia. Ela e eu, eu e ela... Ela e eu, eu e ela. Não, não dá. Quero é que ela fique e siga a sua vida de forma feliz, e eu devo proporcionar-lhe isso, em vez de estar a dizer-lhe que não pode ser ou então ficar cheio de mágoas quando alguém se aproxima dela. Eu não sou dono dela. Os humanos não têm dono. Têm amigos, namorados, alguns são casais. Tenho é eu de mudar a minha atitude. E não mantê-la como está agora. Por muito que me custe tem de ser feito. Não quero nem que eu sofra, nem que ela tenha sempre a mesma visão que tem. Chega. Por muito que eu diga que sim ou que não, ou que talvez, eu tenho de perceber que estou bem assim e que é impossível mudar a relação. E ponto final. Independentemente do que eu desejasse.

Era um excelente prenda de anos, eu adorava receber tal coisa como prenda de anos. Mas não, tenho é de tirar o cavalinho da chuva. Como é algo impossível... Tenho é de me desimaginar de tudo isto que fazia com que a minha vida mudasse um pouco. Não... E já lá vão tantos nãos.

Nem 8 nem 80 por favor.... Tenho pena. Mas não posso ter pena.... Que estupidez a minha... Eu percebo perfeitamente tudo. Imagino é de mais. Não posso, nem devo sentimentalizar o que é isto. Desimaginar e desentimentalizar... O pior é que... Acho que preciso de algum tempo para proceder a tal coisa. Espero conseguir, ou melhor... tentar é o primeiro passo. É algo impossível...."

Bem, que confusão que eu vi naquela imagem. Não sei o que poderia ser. Penso que... depois de eu ter saído do quarto para ir à casa-de-banho, chegou a hora dele. Avisei a enfermeira e o médico e tapei-lhe a cara. Derramei uma lágrima sobre o lençol que o cobria e abracei-o. Depois, sai do quarto a chorar. Não tinha percebido nada e nada estava certo para ele, nem naquele momento em que ele deveria estar calmo.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Why????? Porquê????

Por mais que eu queira manter-me como estou, já deram ordem para eu mudar. ara deixar tudo o que me assabarca além das aulas na escola.

Apenas faltam dias até ao início do novo ano de 2011 e também já me disseram que era nesse dia de ano novo que tudo vai ter de mudar.

É mais fácil, eu chegar ao pé das pessoas e dizer ou fazer tudo por antecipação: Dizer que não quero continuar a ser mandatário da Lista S, dizer que não quero continuar a ser delegado de turma, fechar os olhos para os autocarros, e deixar de me interessar quanto à hora que chego à escola.

Deverei saber que o único autocarro que passa à porta da escola é o 14 e se ele não parar na paragem antes das 8h30, vou ficar lá até voltar a parar um autocarro que me leve directo à escola. Não querendo saber das horas, se chegar atrasado, cheguei.

Além disso, fechar-me mais uma vez sobre mim próprio, desfazer o que tentei fazer neste dois anos de Secundário. Já basta ter digo chega a algumas pessoas, e agora acho que tenho de afastar todos os outro de ao pé de mim, ao menos assim não terei de estar ao pé do telemóvel algum tempo e posso estar esse tempo a estudar.

No fundo, acho que o que interessa é que eu estude apenas. Parece que os cálculos matemáticos que eu faço das minhas notas, não chegam para mostrar que não é por este ou aquele resultado que as coisas mudam. Parece que as pessoas não compreendem que se eu não falo do que me atormenta realmente é porque acho que elas não iriam perceber e iriam relativizar.

Como é que vou chegar ao pé de um colega meu e dizer.... Pede a outro, porque apenas tenho de ser teu colega.... Ou então, como vou ocupar o tempo que vou passar mais em casa? Parece que vai ter de ser a estudar, mas.... Não dá, porque a minha cabeça não aguenta cinco ou mais horas de estudo diárias.

Em vez de me tentarem melhorar a vida, ainda me estão a piorá-la. Se faço o que faço é porque tenho razão para fazer de tal forma. Tenho pena que muitos poucos percebam isto....

Quero-me ir embora de vez... Sozinho.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Desabafo #4

Todos sabemos que mandar pessoas à merda não é fácil e admito que para mim, é mesmo bastante difícil. Muito mais difícil do que chegar ao pé de uma rapariga e dizer que a amo perdidamente ou então, chegar a casa e mostrar um teste com nota negativa à família.

Esse sítio tão horrendo que é um disfemismo de tanta coisa no mundo actual é uma expressão que me deixa revoltado, porque apenas em casos muito extremos é que a digo ou a escrevo. Se disse a uma pessoa para ir para tal sítio, é porque realmente estava mais no céu do que na Terra.

A tristeza não se afasta das pessoas. As pessoas é que se têm de afastar das tristezas e eu não consigo neste momento fazer isso. Além de que ter alguns sonhos corrompidos, trabalho a duplicar (apesar de ser opcional e de livre vontade), de ter cá em casa uma mãe que trabalha mais do que de Sol a Sol e os avós, um com o PSA elevado que não descansa à mais de um mês suficientemente e outro que meteu na cabeça que tinha alzheimer, ainda me falta o meu tremor das mãos, o frio do Inverno, o Natal que há uns anos que não me diz nada e o facto de este ser o último ano do Secundário.

Cada dia que passa é como que o escuro e a tristeza se apoderasse mais de mim. Como que não visse mais nada à frente do que senão a rotina dos autocarros e da escola, a sensibilização das pessoas para o bem-estar social, visse receitas para ir levantar à farmácia ou então consultas e exames para marcar.

Claro que todos podem dizer que não tenho falta de carinho, e na verdade o que se passa é isso. Não tenho falta de algo que é importante. Sinto é que me sufocam demasiado com as vicissitudes de algo que eu não tenho culpa em cima, nem em nenhum outro lado.

A escuridão não me faz diferença de facto. Se passei anos com ela, mais um ou dois ou os quantos que forem, serão bem-vindos. Mas o que não quero é reviver o passado. Em nada. Tive coisas boas é certo. Passei por coisas más, correcto. No entanto, nada disso é repassável, ou seja, consigo passar pelas coisas boas de novo. Por mais que queira, as coisas só acontecem de forma igual uma vez.

A luminosidade do tempo é um factor contraditório. O que sei é que apesar de tentar ser forte na escola, as horas de sono são poucas, as chatices são muitas e o tempo para não fazer nada depois de fazer tudo (fruto de ter aprendido a ignorar algumas coisas) é algum ainda - de facto o que acabo por passar são brasas nas aulas com documentários.

Ainda ontem me perguntavam: "Mas como é que sabes os manuais quase todos do secundário de cor?". Eu respondi que não sabia, no fundo o tempo livre quando estou junto ao computador tem de ser passado de alguma maneira. E de facto, quando não se tem muito para fazer, até os simples nomes dos manuais podem ser decorados. E não, os estudos não podem ser aumentados, porque depois da carga de trabalho em casa, que digo que quero fazer porque senão, nada é feito de forma capaz a minha cabeça pouco mais assimila. E olha.... Agora tenho um sonho. E esse que seja realizado... Quando? Espero que seja brevemente, mas nem isso tenho certeza.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A maldita apresentação...

Era um dia extremamente chuvoso e extremamente frio. Uma segunda-feira. Tinha eu uma apresentação na faculdade logo de manhã e, ainda precisava de ir levantar os cabos à Associação de Estudantes.

Apanhei o primeiro barco, 5h15. Cheguei a Lisboa, nem Metro havia. Precisava de ir de autocarro e muito sinceramente não tinha conhecimento acerca dos autocarros que passavam na Cidade Universitária àquela hora. E comecei a pensar... 735, 732, Metro, 746+a pé? As hipóteses eram escassas.
Passou por ali um 732 e eu meti-me nele. Era o primeiro do dia. Vinha vazio como praticamente vinha o barco. Desejei bom-dia ao motorista e sentei-me junto à porta traseira.

Era de noite, ou pelo menos aparentava isso. E no fim lá cheguei ao meu destino. Tiro do bolso a chave da AE e vou buscar as fotocópias. Por meu espanto tudo estava arrumado como eu tinha deixado na sexta-feira anterior. Bem, não liguei e levei o conjunto de papel para o grande auditório.

Montar e não montar o computador, ligar e não ligar os cabos, e para além de ter ido em jejum para a Faculdade, já estávamos quase pelas 8h00. E eu senti-me a desfalecer. E assim foi. Fiquei ali caído ao que parece. Pelo que me contaram estava a sangrar demasiado dos pés e eu não tinha dado conta, dado que tinha tais partes do corpo tão frias.

Dei por mim na enfermaria do hospital mais próximo. E já eram 10h05. Já tinha faltado à minha própria apresentação e além disso, tinha posto em causa a apresentação dos meus colegas. Por muito que eu quisesse ajudar, só me iriam dar alta no dia seguinte, depois de vinte e quatro horas de observação. E ali fiquei naquela cama a tarde inteira, com o livro de farmacologia à frente a estudar. Não tinha vontade de sorrir e as dores ainda eram algumas.

Chorar? Não valia a pena porque ninguém me ouviria ali.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Contrastes.... e Felicidade

A sala estava repleta de gente. Todos atrás de mim. Centenas ou muito mais e eu ali, na primeira fila, a substituir o reitor da Universidade. Os meus superiores tinham ficado doentes e eu era o único do Conselho Pedagógico que não tinha ido ao jantar do Encerramento do Ano de Trabalho num restaurante chique lá para os lados de Belém, além de todos os membros da Direcção. Tinha sido tudo em cima do tempo. Não se conseguia desmarcar nada. E alguém tinha de substituir tal importante pessoa.

Corriam na sala os zuns-zuns de quem seria o substituto do reitor naquela importante homenagem de fim de curso. Mas nenhum estava certo. A cerimónia começa. O professor responsável pelo curso de Medicina começa o seu discurso salientando a importância deste curso para a vida no século XXI e congratulando todos os aqui estavam sentados que tinham acabado o curso, visto que foram anos árduos de trabalho e de dedicação. Ao fim do seu discurso, ouve-se na sala um grande burburinho.

Estava na hora de eu subir ao palco. No entanto, ninguém sabia quem é que iria substituir tal pessoa bastante importante ali. Era simplesmente eu, um jovem que ninguém sabia quem era, que nunca se tinha cruzado com nenhum estudante de Medicina nos corredores de tal faculdade, mas que todos os anos era eleito pela Lista D como representante dos estudantes no Conselho Pedagógico e além disso, em dois deles na Reitoria como Representante do Pessoal Discente.

Ali estava, perante mais de quinhentas pessoas, um rapaz de poucos anos, barba feita, cabelo cortado à pouco tempo, finalista também que iria entregar o prémio a tantos semi-homólogos. Abri convenientemente os olhos e, tentando colocar a voz, comecei:

"Boa noite caríssimos membros da Reitoria da Universidade, membros dos demais departamentos, Exma. Sr.ª Ministra da Saúde, Exmo. Sr. Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Caros Alunos, respectivas famílias, é com muito gosto que estou presente nesta cerimónia de entrega de medalhas e diplomas aos nossos futuros anjos brancos. A medicina tem sido sempre um curso de excelência no nosso país. Como todos, tem as suas maleitas, mas nunca se deixou cair como muitos outros cursos. Mais de metade dos alunos inscritos terminam o curso em seis anos. Os restantes em pouco mais. Isto são marcas de excelência no posso pequeno-grande país.

Este ano é especial. Apesar de ser Junho como em todas as entregas, e ter decorrido um ano sem grandes desafinidades culturais e sociais nesta faculdades, este ano marca a entrada de bastantes mais jovens no mundo do trabalho português, através de bolsas, novas vagas em hospitais e ainda possibilidade de sair do país e trabalhar num outro país do mundo à escolha do aluno.(...)"

E eu estava ali, a declamar palavra após palavra perante tais pessoas. Uns médicos com os filhos acabados de formar, outros a chorar porque era a primeira geração da família que era da área médica. Olhava eu para todos os lados, via olhos atentos, caminhos fechados, seguranças por todo o lado e em todo o redor. Por mais que eu quisesse estar calmo não podia. E continuei...

"(...) Além do mais, temos de saber dizer que foi neste ano que foi concluída a transição para o Processo de Bolonha. E não fazendo esperar mais tempo, aqui vai a lista de finalistas:

Adriana Filipa Morgado
Ana Josefa Marques
Ana Maria Ribeiro
(...)
André Sousa Silva
Anamisa Pereira Costa
(...)
Eduardo Mia Nobre
Filipe José Pedro
(...)
Maria Ana Morgado
Maria Beatriz Zorro
Maria Clara Fragoso
Maria do Carmos Feliz
Maria Daniela Sousa
(...)
Tiago Miguel Vaz
Zélia Tomate Saudade

Agradeço que os nomes mencionados subam ao palco e que sorriam para que fique marcado nos registos desta brilhante faculdade, o conjunto de pessoas que terminou o curso neste ano lectivo, através de uma fotografia.

Muito obrigado. Boa sorte para todos."

E assim saí do palanque. E eles, os meus colegas ali ficaram para a fotografia. Deixei o meu lugar e saí. Fechei os olhos e segui pela fila central até à porta. Quando cheguei junto desta fiz adeus. E saí. Fechei a porta sem fazer barulho e depois de vestir a batina sigo para o metro com uma vontade enorme de chegar a casa. E assim foi. Quando cá cheguei, reparei que não fazia mais sentido ter o meu antigo telemóvel desligado, ignorar todos os meus ex-colegas, nem nada disso. Foram seis anos assim. E tudo culminou com uma apresentação pública. E quando o liguei revivi tudo. As preocupações, as saudades, o desejo, o prazer, o choro e o sorriso. No fundo, senti um grande aconchego. Mas continuei. Deitei-me naquela noite e na manhã seguinte, ninguém se tinha lembrado que tinha sido eu a substituir o reitor.

Tinha voltado ao meu trabalho de estagiário, enquanto estava a apertar a bata para entrar no laboratório me cruzo com alguém cheio de livros de Anatomia no ombro. Eu distraído e tal pessoa a ler, poin... Um contra o outro. Apanhei-lhe os livros, sorri e continuei o meu caminho até ao laboratório e sem querer não vi quem era o meu colega ou a minha colega de que ali vinha. O que era esquisito era o facto de que aquela zona era apenas para o meu curso. E não se dava anatomia nem no quinto nem no sexto ano. Era estranho... Mas deu-me vontade para continuar com a pesquisa que estava a fazer. E assim se passou mais um dia...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Autocarros, escrita e dinheiro....

Levantava-me, ia para a escola, almoçava, vinha da escola, arreava a mala em casa e ia ver autocarros.

Saía de casa depois de comer uma ou duas bolachas, com um papel na mão com uma base rija para que pudesse escrever: o número do autocarro, o serviço, o horário e a carreira. Fazia isto todos os dias úteis. Estivesse chuva ou fizesse Sol, independentemente da estação do ano, estava ali sentado, naquele banco branco, por baixo das árvores, horas infindáveis.

Sem telemóvel, computador ou qualquer outro aparelho tecnológico. Apenas o meu corpo, a minha roupa, os meus sapatos, a minha caneta e o papel com a base rija.

As pessoas passavam apressadas para chegar a casa e eu ali, debaixo daquela árvore que transmite alergias na Primavera e no Outono, e que me cobre o Sol no Verão e não deixa aquecer nada no Inverno.

Tempo e tempo e tempo e tempo. Escrita atrás de escrita atrás de escrita.

Uma vez uma pessoa parou. Tentou perguntar-me as horas e eu respondi. No dia seguinte, um jovem perguntou-me as horas e eu respondi. No terceiro dia uma senhora de idade perguntou-me as horas e eu respondi. Chegámos ao quarto dia, quinta-feira, e um outro rapaz vem-me perguntar as horas e eu expulso-o das minhas proximidades. Longe de mim, parecia uma ave a fugir da boca de um leão.

E continuei naquele dia até à noitinha, a contar autocarros, a ver veículos, a dizer horas. Na outra semana, deixaram moedinhas. No primeiro dia contei um euro, no segundo dois euros e no terceiro cinco euros. Mas eu não queria dinheiro. Guardei aquela quantia que me tinham dado e meti-me no autocarro e fui ao Terminal. Aí passei uma tarde.... Calado como sempre, com um papel com uma base rija por baixo a anotar tudo. Mas nada, nada mais do que a minha roupa, sapatos, caneta e papel.

Apesar de tudo, e da proximidade do mar, um dia saltei para lá para salvar uma pessoa que tinha caído, porque tinha estacionado mal o carro. Depois disso, meti-me em casa e nunca mais saí. Fiquei lá o resto dos dias. E os autocarros puff. Foram-se....

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

News....

Seja dita a verdade, de facto, numa ténue manhã de Outono acordei sem mais nenhuma vontade de escrever.

O que está escrito e publicado não me arrependo de o ter feito. O que são ainda ideias e que poderiam fazer parte de frases de um post, possivelmente ficam cá dentro até voltar a ter vontade de escrever. Ou histórias longas, ou pensamentos futuros, ou memórias, ou desabafos, ou sonhos.

No fundo, não sei porquê, ou melhor acho que sei, mas não seria justo revelar tal razão, sentir-me-ia despedido a nível pessoal.

E cá estou, continuando a vida de aluno do Ensino Secundário, com um blog minimamente activo, à espera que a vontade volte e que eu não tenha medos de escrever nada. As palavras fortes são duras de entender. As mais frágeis e simples de ouvir são as que mais marcam. Isto é, um simples sinal de cara dá para perder a vontade, enquanto que uma palavra proferida faz pensar e, se calhar, um texto escrever.

Por isso... Até ao próximo texto. As ideias estão cá, mas o medo sobrepõe a elas! Infeliz estou, mas tenho de me respeitar e respeitar os leitores deste sítio....

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Da minha janela eu vejo #4...

(Hoje a minha janela são os meus olhos...)

Vejo a minha melhor amiga a ser levada por um palhaço para um casebre longe de onde vivemos, dentro de um carro preto. Nada podia fazer, pois poderia estar a colocar a vida dela em risco.

Duas horas mais tarde, apareço no casebre mascarado de carteiro. Aí, quase que mecanicamente me aprisionaram-me. A sala estava vazia, apesar de estar lá palha, ela, eu, uma televisão e o palhaço com as respectivas cadeiras.

Sou forçado a sentar-me numa cadeira antiga, enquanto que o palhaço me amarra e está de cabeça baixa. Durante esse tempo, faço sinais com a cabeça para que a minha amiga saia daquele casebre com a cadeira às costas, fazendo ainda sinal que atrás de uma pedra, onde ela podia partir a cadeira, estava uma nota de dez euros, para que ela pudesse apanhar o autocarro.

Ali poucos autocarros passavam, um de manhã e um à noite. Eu queria que ela fugisse dali. Ainda com medo, de já com a cadeira partida, o palhaço dá pela falta dela e o autocarro já se avizinhava. Ela corre que nem uma louca pela encosta abaixo, apanhando ainda o dito transporte.

E eu ali sentado junto ao palhaço, depois de ele ter regressado. Ele não se importava se fosse eu ou ela que estivéssemos reféns, porque apenas era um desejo dele fazer alguém refém. Apesar disso, ele sabia que nós éramos amigos.

Passaram-se anos e soube pela velhinha televisão que ela se tinha tornado esposa do chefe de governo.

Do nada o palhaço mata-se. E eu continuo ali, agora sozinho a ver um corpo em decomposição.

Ainda preso, mas já maluco da cabeça, consigo pegar num objecto cortante e atirá-lo ao ar. Mas nunca tive jeito para o voleibol, daí a faca se ter espetado junto ao coração. Eu comecei a ver o meu sangue a correr pelos meus braços e a coalhar no chão, e ainda uma faca no meu coração.

Duas mortes em pouco tempo. Porque é que ela não me veio salvar? Eu vim salvá-la, porque não queria que ela sofresse.

Mas não entendo porque é que ela não veio ter comigo. E agora estou morto. Não vivo. E ela, feliz, não sabendo que estou morto.

Quem me dera ser quem não sou...

Sou diferente dos outros de manhã à noite. Mas quem me dera não ser. Poderia parecer-me a um adolescente normal, onde a escola é para aulas e namorar apenas, a família é para dar dinheiro e os amigos são para sair. No fundo, nada disso sou eu. Choro muito baba e ranho, quando me desvio da estabilidade que é minha.

Em vez de acordar à hora normal, há três noites que as quatro da manhã são o meu despertador e fico assim, até às seis sem fazer nada a pensar no meu dia.

Assim é, os meus olhos choram, o meu nariz entope, e lá já vão três dias.

Em vez da escola ser apenas um espaço de aulas e namoro, para mim é o espaço da calmaria e do consolo. Tenho saudades dela muitas vezes. Lá, posso chorar, gritar e escrever tudo. O gosto pela família não me permite tirar-lhe (pedindo) dinheiro a toda a hora e os amigos são para ouvir (ajudando-os) e para sair.

Em vez de saber jogar futebol, sei ouvir as pessoas; em vez de andar com os rapazes sei ver e lidar com as raparigas; em vez de jogar jogos violentos, adoro transportes.

Quem me dera não ser assim. Ser mais um como todos os outros. Se calhar pareceria melhor.

Ups... Já ouvi o som do primeiro comboio na estação. O dia já começa. Não o posso fazer parar. Só peço para não chorar muito hoje. De resto nada posso mexer. Apenas tentar ser eu.

Vivo todos os dias amedrontado. E quando vou ao pé do rio muitas vezes, é mau sinal.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Da minha janela eu vejo #3...

Uma estação de comboios.

Uma estação de comboios, mas em tudo diferente das outras, onde os comboios chegam com muita frequência e partem de longe e longe. Esta estação já tem uns anos, mas lembro-me da sua construção, já cá estava. Vi ser posto pedra após pedra, ligarem os cabos eléctricos e também a vi ser inaugurada.

Agora, passado esses anos, apenas vejo poucas pessoas na estação, mas a mesma continua a ser rentável para a empresa que a explora, porque os lucros não são os bilhetes, mas sim a emoção. Consoante o humor da pessoa, assim é dado o valor que é debitado na conta da empresa responsável pela estação.

E eu ali, em frente a ela. Raramente ponho lá os pés, prefiro caminhar mais um pouco e utilizar o autocarro, para efectuar o mesmo percurso. Mas hoje, algo me levou a estar mais de uma hora junto à minha janela a ver os comboios. Não porque gostasse deles tanto como gostava dos outros, mas porque algo se estava ali a passar.

Vi alguém ali, na plataforma, sentado no banco, sem bilhete, com uma máscara posta. Via-se ao longe que era uma máscara, de fraca qualidade, mas que era tal e qual a cara do rapaz que ali estava.

Por trás daquele sorriso mascarado, via-se bastante bem também a expressão negativista daquela pessoa. Estive imediatamente para descer e ver o que se passava ali, mas não tive coragem. Fiz outra coisa: liguei para a bilheteira. Tinha conseguido o número, porque numa das vezes que existiu uma greve dos autocarros, pedi o número ao revisor. Vinha eu da escola.

Liguei como disse e perguntei quando é que tinha sido a última vez que o comboio tinha partido. O funcionário não me deu nenhuma resposta com sentido. Apenas um "há pouco tempo".

A noite chegou e eu deixei de poder olhar para a estação. Fiquei com a expectativa de aquele rapaz ter seguido a sua vida.

Na manhã seguinte vou, espreguiçar-me, como de costume à janela, e vejo ainda lá o rapaz. A tremer, a chorar, sem nada por cima e um dos comboios já aí vinham. Mas desde aquela última partida que aquela plataforma não era usada. Ou seja, as pessoas, saiam pelo outro lado, nunca viam o pobre e triste rapaz ali. Já não podia fazer mais nada senão ajudá-lo. Desci as escada do meu prédio a correr e fui, com um cobertor meu à estação. Ele ainda estava com a máscara posta. E trouxe-o. Ele mal subia as escadas do meu prédio. Quando consegui chegar com ele à cozinha, e lhe tirei aquele objecto tão falso, tentei animá-lo com um chá quente, e uma torrada.

Ele continuou calado, mas comeu tudo. E eu estava sem fome. Pareceu que houve transmissão de sentimentos. Depois de ele comer, e já com um aquecedor ligado para que os pés gelados pudessem aquecer, pergunto-lhe o porquê de ele ali estar há dois dias, naquela plataforma de partidas e poucas chegadas. O pobre rapaz respondeu utilizando os braços, simulando um aconchego e de seguida voltou-se para a parede da minha cozinha e direccionou o dedo indicador esquerdo para a estação dos barcos. E eu anotei.

Já se tinha passado mais de 30 minutos e eu ali com ele, na tentativa de ouvir um nome, uma morada, algo que me pudesse levá-lo a casa, ou a alguém que o conhecesse melhor que eu, e de certa forma o pudesse ajudar. Ele levantou-se, após eu dizer que ia o que queria levar ao hospital. Queria fugir, mas eu tentei tranquilizá-lo. Quase de arrasto me levou da estação dos barcos à estação dos comboios e daí a uma rua longe dali. Já eu cansado de andar e ele, já cambaleava e apontou para um prédio. Toquei à campainha e veio uma senhora de meia-idade. Questionei tal senhora acerca do rapaz e a mesma disse que o conhecia há algum tempo. Eu pedi, com muitas desculpas, se ele lá podia ficar. A senhor aceitou. E ele, subiu as escadas mais uma vez.

Lembro-me de no fim das escadas ele me ter feito adeus, e, ainda, me ter vindo ver à janela. A partir daí, não soube mais nada, mas via e continuo a ver, naquele lugar um rapaz, com aquela máscara, à espera que um comboio chegue naquela plataforma de partidas. Um comboio para ele...

Ele está lá, mas já tem uma mantinha, apesar de continuar à espera.

sábado, 6 de novembro de 2010

Uma reflexão...

... do passado, para o presente e para o futuro.

Lembro-me como se fosse hoje. Era um fim-de-semana, à noite. Vinte e três e qualquer coisa. Ambos estávamos fora da hora normal para nos irmos deitar. Ainda me recordo que pouco faltava para a meia-noite. E eu estava com medo. Não a conhecia. Não sabia como dizer nada, acerca de assuntos mais sérios, com menos brincadeira. De repente veio-me uma vontade louca à cabeça e disse-lhe que a amava. Mal a conhecia e disse-lhe isso. Parecia um puto de dez anos a dizer a uma amiga que gostava dela. Aquilo foi sentido. Não foi "epah, acho que gosto de ti...", foi mesmo algo importante que saiu (apesar de ter sido com algum medo) após pensar e repensar, ler e reler conversas, olhar e reolhar para mim. Mas continuava a não conhecê-la. Depois de ouvir a resposta dela, pergunto-lhe com sinceridade se devia esquecer, e ela responde que deveria fazê-lo se conseguisse.

Aí começou o retrocesso. O aprender a controlar-me e saber que apenas poderíamos ser amigos, independentemente do que eu achasse dela, ou que soubesse, ou que pensasse, ou que me dissessem ou que nós fizéssemos. Foi complicado. Sim, foi bastante complicado. Um amigo meu, meses depois, voltou-se para mim e disse-me que tinha sentido tudo aquilo porque se nós assemelhassemos o acto de início de uma relação mais séria à vitória de uma batalha, esta poderia ter sido uma batalha quase ganha. Depois de ouvir o que ele me disse, disse que não podia ser e que não acreditava naquilo que ele dizia. E continuo a não acreditar. Apesar de ele mo ter dito.

O tempo passa e admito que não sou de ferro. O processo de retrocesso também tem recaídas e eu assumi-as, nunca perguntando se ela estaria interessada, dizendo apenas o que se passava comigo mesmo. E os meses continuaram a passar...

Passaram até ao ponto de eu achar que já nada poderia influenciar as minhas recaídas, isto é, não voltaria a ter pico de gosto amoroso por tal rapariga. E de facto, se os tive recentemente, não dei por eles. Se calhar porque registei cá dentro a resposta daquela noite que foi calorosa, mas que me parecia definitiva. Não me lembro mesmo de recaídas recentes. O que sei é que por vezes, desejo as ter, quando não estou em mim, ficando arreado a uma parede branca do meu quarto ou na escola, num canto da "minha" sala quase que a chorar. Por outro lado, acho bem não ter tido nada, porque significa que sou forte o suficiente e que consolidei, com cimento forte, os sentimentos passados.

Mas tudo tem um mas... Mesmo que não queiramos algo adversativo, existe sempre um mas, em tudo. Pergunto agora, e se fosse agora. Se a tivesse conhecido nesta altura e começasse a sentir tudo como naquela altura? Ou ainda, depois de tudo, se sentisse muito mais do que senti naquela altura?  Ou mais ainda, se me viessem dizer que ela estava interessada em mim, como é que eu reagiria? Será que alteraria o meu comportamento ou ficaria como estou agora, respondendo-lhe de forma clara e objectiva o que está cá dentro.

Muitos dizem que o futuro é incerto, e eu também sou apologista disso. Mas, e o presente? Também não o é? Nós não sabemos o que traz cada comunicação, cada pensamento que nos chega naquele instante que não estávamos a pensar ter ou ler ou ver ou receber ou enviar.

No entanto, e se fosse agora? Não tenho dúvidas. Mas se fosse eu parvo o suficiente? Ou o racional de mais? O presente ainda me coloca mais questões do que o futuro.

Não nós, mas os leitores e eu: segredamos as coisas. O que farei? Não sei. O que ouvirei: uma forma querida. O que responderei: nada. O que penso agora: a estupidez do motivo que me levou a escrever isto. O que acho em termos matemáticos: Deveras improvável.

PS: Acho que o ser casamenteiro não se aplica a mim. Só o consigo ser para os outros. Mas o passado não o posso largar do nada. E ela é um marco indúbio que me fez abrir os olhos e pensar como poderão ser e o que poderei achar das pessoas que poderei vir a amar no futuro. Raios parta para os outros que me chamam tonto todos os dias. Mas eu é que sei da minha vida. Cá dentro, mesmo que o coração bata por estar atarefado, o cimento está forte. E acho que isso é bom!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A brincadeira a que se chama morte

Estava uma manhã de Sol. Era Outono. Uma sexta-feira. Ainda cedo, aquele rapaz sai de casa a pé e passa duas estradas perigosíssimas e nada lhe aconteceu. Rapidamente chega ao pé da escola dele. Aí, quando faz a curva no passeio para entrar pelo aberto àquela hora, ups... Olha para trás, porque ouve uma respiração ofegante. Mas não era nada. Ninguém nem nada de diferente ali estava. Apenas um largo campo com buracos fundos e ainda alguns camiões estacionados.

Ao pé do portão da escola, ouve-se um disparo. No instante seguinte, depois de o rapaz ter olhado para a direita, de forma a que pudesse perceber o que se estava a passar, sente algo a entrar no seu corpo e cai no chão. Ninguém ali passou até mais de meia hora depois. Quando a funcionária de um dos pisos da escola ali passa e vê aquele rapaz ali deitado no chão, quase que grita. Ele não tinha nada ao pé dele, nem mala, nem saco, nem carteira, nem tão pouco telemóvel. A senhora com vontade de ajudar o rapaz, já frio e de olhos fechados entra de rompante na escola e começa aos gritos. Liga para os bombeiros e pede que venham com a máxima rapidez.

Poucos minutos depois, começam as sineres a serem ouvidas, todas diferentes, uma ambulância do INEM, um carro da polícia e uma viatura que trazia um dos médicos que poderia ajudar os bombeiros na necessidade de algo mais técnico. A Polícia fecha a estrada. Os alunos apenas podiam circular por metade da escola. A entrada principal estava fechada, ninguém podia sair da escola. Apenas entrar, mas ninguém sabia disso. Alguns professores estacionam o carro do outro lado da escola e entram. Outros, mais curiosos aproximam-se o mais que podem do local e vêm ali um rapaz caído no chão, com pessoas de volta dele, a verificar se aquele corpo ainda vivia. E os minutos passavam... A campainha da entrada tocou e ele não apareceu às aulas. Estava ali deitado no chão, mas nenhum colega, nem professor da turma sabia o que se tinha passado.

A tal funcionária vai ter à sala onde o aluno ia ter aulas e pede para ter uma conversa com a professora de tal aula. Algo rotineiro para a turma e dessa forma ninguém estranhou. Quando a professora daquela hora volta para aula, e onde estava a resolver exercícios de revisão para o teste que seria brevemente, engole a saliva  que tinha na boca e diz que o tal rapaz que era aluno daquela turma tinha morrido.

O corpo dele já estava tapado com a protecção própria e já estava dentro da ambulância a caminho do hospital mais próximo. A turma ficou sem acreditar. A aula continuou apesar de ninguém ter cabeça. Viam-se alunos que sabiam a tabuada de cor a fazer 5 x 3 = 14. No intervalo foi a confirmação. Os burburinhos entre os professores chegaram a alguns alunos e os corredores comentavam aquela morte. A turma está igual, mais triste, mais calada, sem vontade de muito, mas ninguém chorava. Todos eles eram fortes.

O lugar dele continuava vazio. Claro que ele não voltava, estava morto. A aula das 10h serviu para que todos soubessem a situação. Nem todos aguentaram. Apesar de fortes, começaram a chorar. Os lenços que tal rapaz tinha deixado no armário da sala não chegavam. No entanto, as aulas tinham de continuar.

Chegaram a casa os alunos. Ainda o corpo estava a ser autopsiado no hospital. Uma bala certeira e mortífera. Alguns choravam, outros pediam aos pais para estarem junto deles.

A Directora da escola liga aos pais a dar as condolências e ainda algumas palavras de conforto.

Um dia depois o corpo fica em velório. Lembro-me de pessoas que ficaram ali quase o sábado inteiro. Impediam que aquele rapaz pudesse seguir para o crematório. E todos choravam ali.

Ninguém conseguia pensar de outra maneira, mas ele tinha deixado tanta coisa escrita para tantas pessoas que, era explícito que rapidamente encontrariam estabilidade e a falta dele não seria sentida.

Mas continuo a ver pessoas a chorar e já se passou um mês. No fundo, quando atirei aquela coisa nunca pensei deixar as pessoas assim. Carreguei no botão errado à hora errada. E ele ali ficou. E eles ali choraram. E o nós puf.... Foi-se!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Depois da ida e da vinda...

Esta viagem foi... espectacular! Muitos perguntam o que eu fui lá fazer e eu respondo que fui andar de metro, porque na realidade o objectivo era esse.

Bem, só um maluco anda de metro em Madrid de propósito. Sim é esse o espírito. Para os não fanáticos por metropolitanos é tudo igual em todo o sítio do mundo. No entanto, para mim não. As cores são diferentes, as carruagens são diferentes, as vozes das estações são diferentes, a maneira como são anunciadas são diferentes. Mas o metro de Madrid é excelente! Um dos melhores no mundo. Como todos tem os seus pontos fracos, mas mesmo assim dá para ser classificado como um dos melhores!

Passei mais de 80% do tempo da visita, tirando claro os momentos em que estava no hotel, debaixo do chão. Analisei a maioria da rede do metro, tudo. Achei excelente. Todos podem pedir fotografias do metro que eu achei excelente, mas para vocês, que não gostam e não transpiram por transportes, será, mais um metro igual a tantos outros que existem no mundo.

A viagem não foi só isso. Lacrimejei algumas vezes. Mas percebi realmente o que sentia em relação a algumas pessoas amigas e colegas. E isso também me foi muito importante. Para mim foi estupendo mesmo, porque, as dúvidas que tinha, a distância tirou-as. Mas não tenho coragem para fazer o que deve ser feito. Apesar de já não ter dúvidas, estou de pé atrás. E sim acho que com o tempo, vou voltar a ter as dúvidas que tinha. Porque não sou corajoso o suficiente, mas sim pessimista e tento ser realista.

Lá está o que Jean-Paul Sartre dizia: " Ser-se livre não é fazendo aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode". Desta forma, que posso querer o tal aquilo e sentir-me ainda mais livre, mas não posso fazê-lo porque não posso cair num estado lastimável de novo!

E sim, mais uma vez a viagem foi excelente e sem ela, a viagem não tinha sido a mesma! Obrigado!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um.... ate já

Amanhã me vou!


Passo os próximos dias a vaguear por aqui e por ali numa cidade desconhecida, e espero eu, poder passar muito do meu tempo de passeio debaixo da terra, a ir de uma estação para outra, de um local para outro.

O que sei é que espero voltar segunda. Se não vier.... hum... É porque fiquei nalgum sítio que era o meu destino.


Bem, até ao próximo texto!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Desabafo #3

Tenho saudades e ainda estou no secundário.... E ainda estou no secundário! É estúpido para muitos, mas para mim faz sentido.

Gosto de sentir isto que sinto por vezes. Mas não quero chorar mais. E já me correm lágrimas pela face.

Faltam 2 sinceridades, mas não consigo dizê-las agora!

Estou a ir contra os meus princípios: sinceridade, amizade e verdade...

As teclas do computador formam na minha palavras sozinhas com o caminho que devo seguir, mas não acho que as devo seguir!

Desabafo #2

De facto muitos têm uma vida pior do que a minha. Não ponho isso em causa. Mas hoje, se faz favor, é quase que obrigatório! Tenho de dizer isto....

Estou super triste e sinto-me super injustiçado. Não achei nada giro o que fizeram hoje no teste. Mas tenho de ficar calado. É assim que os bons colegas funcionam. Vou cumprir o que aqui escrevo! Depois do teste, puff, desapareci e perdi a vontade de andar rápido. Fiquei na simplicidade de um passo normal e com uma cara como a tenho normalmente em casa, triste e pálida. Tinha-me de distrair com algo. Não consegui. Para a próxima vou para ao pé do rio! Acho que vou ter mais sorte lá.

Cheguei a casa pela tarde, e como de costume vi sangue a correr pelo corpo. Já é rotina. Mais um dia, mais uns mililitros de sangue que saem do corpo por uma hemorragia que não consigo controlar. Bem, nada de grave, mas o sangue faz parte do meu dia-a-dia. Hoje tentei tratar de tal sangue e espero que nos próximos dias, que tal ferida sangre menos. No entanto, acho que no rio, se estivesse lá tinha sempre mais sorte. Até me esquecia disto.

Tenho saudades, quero viver experiências que me façam matar saudades. Mas continuo a achar que é imperativo viver com um pouco de cara séria. No entanto, é tudo uma máscara. De sério e colega a sincero e amigo vão poucos centímetros.

Além de tudo isso,... a vida são dois dias e o primeiro já está quase a meio. E eu continuo com todas as confusões na cabeça, mas tenho de ser bom amigo, bom companheiro e bom colega.

Altruísmo!

domingo, 24 de outubro de 2010

Da minha janela eu vejo #2...

Estou em frente a um prédio. Perto de duas galerias comerciais e algumas paragens de autocarro. Ainda no Verão vejo um rapaz, no prédio em frente, mesmo em frente a mim, no primeiro andar.

Por trás do cortinado, estava uma pessoa feliz. Ele sorria, estava no computador com ânimo, tocava no telemóvel novo dele como que fosse a sua riqueza. Algo se passava ali de grande importância. O Inverno foi chegando e o frio foi arrasando, mas sempre eu que olhava para aquela janela estava o rapaz feliz, a sorrir, ou estudava, ou estava no computador sempre a teclar, ou ainda via televisão com o telemóvel ao pé de si.

Quase chegava a Primavera, quando algo se sucedeu. Deixei de ver entusiasmo naquele rapaz. Tal pessoa trocou o encanto dos livros pelo choro em cima da cama, sem televisão, com o telemóvel ao seu lado mas nunca o pegava. Muito raramente. Estive quase para ir falar com ele nesse dia, mas contive-me.

O tempo foi passando, o Verão tinha chegado. E ele estava a ir de férias. Naquele ano eu ia com ele! As férias foram as melhores. Lembro-me que num dia cheguei a falar com quem ele falava ao telemóvel. Parecia ser uma pessoa interessante. Perguntei-lhe se tal pessoa sabia que ele tinha estado dramaticamente em baixo durante tanto tempo e do outro lado ouviu-se um sim, mas com uma relativização, porque não havia sido necessária tanta coisa e tanta amostragem. Respondi àquela mensagem com calmaria. Um texto enorme de mil e tal palavras caracterizando a pessoa que eu via da janela.

A escola voltou a começar. E ele continuou triste. Tinha trocado o choro pela contenção de lágrimas. E a partir daí eu via-o, em momentos felizes e em momentos infelizes. Todos os dias era assim. Tanto o via feliz, como o via infeliz. Tanto o via agarrado aos livros, como o via ali, sozinho na secretária a olhar para o computador sem nada para fazer e falar. Ele mostrava medo de dizer as coisas. Tanto papel que ele gastou em elaborar textos que achava interessantes, mas que acabavam por não passar de desabafos. Uns ele guardou, outros jogou-os fora, e nesta altura já devem ser papéis novos, como por exemplo em jornais.

Naquela altura, o tempo passou a correr. Só o via de vez em quando, a delinear estratégias e um dia cheguei a falar com ele. Ele mostrou-se preocupado. Eu disse-lhe que era de mais, que não valia a pena estar assim tão enérgico e tão amedrontado, porque a preocupação acabaria por passar.

Mas ele nada fez. E chegou o Verão de novo. E a escola voltou a começar. Mas naquelas férias, ele deixou de poder ouvir algumas músicas. Começaram-lhe a fazer impressão.

Deste tal começo escolar, as idas de autocarro têm sido acompanhadas. Eu e ele encontramo-nos sempre na paragem. E eu por vezes meto-me com ele, conversamos um pouco até que chega o autocarro. Quando ele sai para ir para a escola, passou a ver uma pessoa tristonha. Ele não consegue sorrir. Ele acha-se um estorvo em frente ao mundo.

Ele ocupa-se para controlar o medo. Para não incomodar de mais as pessoas. Ele julga-se ser o culpado de tudo e muda a vida para não sentir a rotina diária. Ele acha que toda a gente lhe mente.

Não sei que fazer mais com ele. Quando o vejo da janela do meu quarto ou ele está triste ou ele chora ou ainda, está ao computador com cara normal e séria. Tudo isto deixa-me muito triste. Quem me dera poder ajudá-lo, mas não posso.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Da minha janela eu vejo... #1

Estava eu debruçado na janela de minha casa. Em frente à escola, em específico em frente de uma sala completamente diferente das outras.

Aquela sala estava arranjada, de fora via-se as bandas que cobrem o Sol todas completas, ou fechadas ou abertas, mas todas iguais, nenhuma descoordenada. Reparo em algo nos alunos daquela sala.

Estava uma menina ao pé da porta, a olhar fixamente para a parede. Ali, mais de cinco minutos passavam e ela continuavam a olhar para a parede. A professora que estava a dar aula falava e ela continuava a olhar para a parede; olhar em frente, nem para a esquerda, nem para a direita, ela olhava em frente, para o vazio de uma parede creme com algumas manchas de fungos presentes.

Passou um autocarro entretanto e eu distrai-me. Quando volto a olhar para lá vejo um rapaz levantado de mala às costas, e a mesma menina em vez de olhar fixamente para a parede, estava a brincar com a borracha. Ficou ali tempo e tempo a brincar com a borracha. E eu olhava para ela da minha janela grande, em frente à sala.

O rapaz da mala às costas sentou-se. Deveria ser perto da hora da saída. De repente, puffff, a professora mexe-lhe no cabelo e ela sorri, um pouco intimidadamente, mas sorri. Hum, cá do longe da minha janela, isso quer dizer respeito.

Cá do longe da minha janela, vejo muitos que se voltam para trás e que falam, mas aquela menina está ali, ou brinca com a borracha, ou escreve, ou olha para o vazio da parede creme em frente.

Faz-me lembrar o meu tempo de escola!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Future Thinking #3

Estava prestes a terminar o 12.º Ano. Era o último dia de exames. Depois disso ia de férias e, como no ano passado não a ia voltar a ver. Nem a ela nem a mais ninguém, a não ser quem passa férias comigo na fronteira do Alentejo com o Algarve.

Pois bem, tinha tomado a decisão há uns meses de pôr na ficha de candidatura "Aveiro", "Covilhã", mas claro, antes duas em Lisboa. Naquele ano abria Aveiro e eu até estava completamente radioso de poder ser um dos primeiros alunos a ir para lá. Apesar de ser a terceira minha escolha, se lá ficasse colocado, ia sem dizer não. Apesar de inicialmente eu querer ir para Sevilha, mas cá em casa não me deixaram.

Estava na hora de lhe dizer. Derrotista como estava nesse dia, onde tinha feito exame de manhã, e ainda com as malas para fazer, vou ter à porta dela e convido-a a ir lanchar comigo, assumindo que era urgente e que era importantíssimo. Eu ia-me embora e não sei se era justo e válido o que eu ia fazer.

Mas disse, acabámos por fazer o caminho do costume e quando chegámos ao local onde eu lhe disse, não lhe dei nenhum papel. Voltei-me e disse-lhe que tinha posto Aveiro e Covilhã para o fim da lista de hipóteses. Aí comecei a derramar lágrimas. Líquido atrás de líquido e ela manteve a sua postura: firme, de costas direitas e com um sorriso; dando-me de seguida um lenço para eu limpar as lágrimas. Assim findou o lanche com metade do meu pão na mesa e um leite com chocolate cheio.

Eu queria fugir dali! Queria ter um conforto. Ela deu-me um lenço. E sim, confortou-me. Mas continuava com medo da reacção dela. Tinha medo nessa altura. Quase na paragem do autocarro e com ele já ao fundo, não quero saber de quem ali passa e abraço-a! Fechei os olhos e deixei dentro da blusa um mini-bilhetinho, porque já sabia que não iria conseguir dizer-lhe tudo. E voltei a chorar. Acho que aquele abraço dizia tudo.

Entrei no autocarro e vim para casa. Desliguei o telemóvel e meti-me na cama em pleno Verão com as malas para fazer. Pego numa fotografia nossa, e deixo-a no sítio, apenas a tinha limpado com um pano.

No meio das férias ela ligou-me. Disse que tinha entrado em Lisboa. Eu menti. Disse que ainda não tinha visto. Mas sim, tanto eu como ela sabíamos que eu tinha entrado em Aveiro. Ia-me descaindo ao telefone na consegui conter-me. Desligo-lhe o telefone com tal impacto na tecla vermelha que ela se estraga. E vou em direcção à casa de outra amiga e bato-lhe à porta chorando de forma imensa, porque tinha entrado em Aveiro e o sentido se iria perder.

Desabafo #1

Ups....

Uma nova categoria, mas com uma razão...

Mais uma vez dissimulei uma questão, omiti a razão verdadeira pela qual a fiz. Mas acho que a outra pessoa percebeu. Já não bastava a família ser positiva e eu negativa e a quem poderia ser a minha salvação, também não o pode ser.

Algo que não nos é possível trocar assim como se troca de camisa nem de roupa interior... Algo que nos suporta toda a vida desde o momento em que temos algo nidado até à morte.

Não estou triste, acho que estou normal, ou melhor, tenho de estar contente! Até tenho um bom resultado das análises que fiz e recebi hoje.

O sangue é uma das coisas mais preciosas... Espero nunca precisar de levar transfusões, porque com cinco pessoas já não posso contar! Faltam outras, mas... Nem lhes vou perguntar! Não pensemos nestas coisas...!

Recordações #2

Parece que foi hoje, e já se passou algum tempo. Mas aquele sábado ou domingo, que já eu nem me lembro bem foi diferente. Pela primeira vez na vida, arranjei coragem e meti conversa com uma pessoa que não conhecia de lado nenhum num Hi5. Bem, de perto era essa pessoa de facto, mas tal humano estava a dar volta aos fígados!

Então mal e porcamente, de forma disfarçada, como quem não quer a coisa meti conversa e acabamos por trocar mails no mesmo dia. Julgo que foi nesse dia que começou uma segunda amizade relâmpago! Nunca pensei ter uma, quanto mais duas.... Mas a segunda foi muito boa! Foi e é! Espero eu!

O tempo é que não me esqueço... Chovia torrencialmente e eu tinha saído do banho naquele momento. Depois do clique parece que tinha ganhado mais um pilar para me suportar! E de facto é mais um pilar para me suportar de algumas quedas estúpidas.

O silêncio foi uma arma importante. Do zero, onde não nos conhecíamos passei a ser um amigo! Fiquei contente por isso. Ultimamente, essa pessoa tem voado pelo mundo, passado imensas fronteiras, abrindo novos horizontes. E eu, sorrio. Sim, porque é um bom sinal. E mais cedo ou mais tarde vamos ter de nos adaptar a essas mudanças também.

Desde aquele dia chuvoso de Janeiro que tanta coisa mudou, e tanta coisa passou. E tanta conversa foi escrita e falada. E tantos textos foram escritos.

Sem dúvida que, agora, uma ave a voar e outra, que espero eu, esteja a levantar voo, poder-se-ão cruzar um dia e relembrar momentos felizes que passaram juntos no Secundário. Tenho pena de não ser mais inteligente um bocadinho... Mas sou como sou! E acho que ainda tenho uma mini-pinguinha de orgulho no que sou.

Que ele tenha uma boa vida. E que não se engane muito. E que conte com os amigos de cá de trás, da outra escola, para que possa continuar a ser o que foi... AMIGO!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Future Thinking #2

Era uma sexta-feira, quer dizer, já sábado, uma da madrugada.

Uma das primeiras boas noites, sem vento, já com um pouquinho de calor à mistura. E estava eu ali, a conduzir um carro branco na direcção da Ponte 25 de Abril, quando me lembro de mudar de rota e seguir pela Vasco da Gama para chegar a casa. Seria mais longe, mas não apanharia nenhum controlo policial e, até podia ser mais rápido. Era caótica aquela hora na Ponte 25 de Abril para Sul.

Quando passo em frente à Estação Fluvial do Terreiro do Paço, ia atropelando alguém uma mulher na casa dos seus vinte anos de calças de ganga a correr para apanhar o último barco. Fiz-lhe sinais de luzes. Consegui parar a milímetros daquela nova senhora. Eram uma hora de cinquenta e sete minutos. Faltavam três para  partida do barco...

Parece que o tempo tinha parado para aqueles três minutos. Eu estava de barba grande, não ia dormir a casa há três dias. E ela, estava tão alta, tão diferente. Não sai do carro. Mantive-me lá dentro. Ela expressou um sorriso e continuou a sua corrida para apanhar o bem dito transporte. Encostei à frente junto às paragens dos autocarros para ver se tal rapariga apanhava o barco. Desligo o carro, tiro o cinto e fico ali. Para ver se naquele minuto a tal humana conseguia chegar ao seu destino.

Vejo-a a regressar. O apito do barco tinha sido dado momentos antes de ela ter passado na máquina o seu passe. Não o conseguiu apanhar. Quando noto tal pessoa a dirigir-se com um telemóvel na mão para trás, vou ter com ela e pergunto-lhe se o destino dela é o Barreiro. Ela responde que sim e acabo por convidá-la para entrar no carro, porque ambos tínhamos a mesma cidade como ponto final de trajecto.

Continuo a viagem e passo por alguns motoristas que conhecia, chegando à Ponte Vasco da Gama. No sentido contrário estavam a decorrer as famosas e ilegais corridas de carros. Mas por sorte consegui passar a ponte em menos tempo do que o normal. Quase que não havia trânsito.

No carro o clima era de silêncio. Quando viro para o Barreiro pergunto-lhe qual a zona onde ela morava e a resposta foi no centro. Deixei-a junto ao fórum. Era um sítio mais directo para eu depois chegar a casa, desfazer a barba e ir-me deitar. Assim foi.

Chego ao sítio onde a devo deixar e peço desculpa quanto ao quase atropelo em Lisboa. Ela volta a sorrir e pergunta se já nos conhecíamos anteriormente. Eu respondo que não sabia, mas que me chamava Guilherme. Ela voltou-se e desejou-me bom fim-de-semana, dizendo que se chamava Francisca.

Quando Guilherme chega a casa e se vai deitar lembra-se quem é que poderia ser Francisca, mas com a dor de cabeça que ele tinha, caiu na cama, não se recordando de mais nada. Apenas conseguiu sorrir, quando se levantou na manhã seguinte, com um bonito dia de Sol.

Quem seria Francisca? Ele ficou a perguntar e perguntar até que decidiu ligar a todas as raparigas que conhecia e que tinha número de telemóvel. Concluiu que Francisca era.... a Francisca de outros tempos! Apenas, mais crescida...

domingo, 17 de outubro de 2010

Sou como não deveria ser...

Esquecido e de boca aberta....

Espero que o último termo tenha ficado para trás e tinha essa impressão há já algum tempo. A minha memória aliou-se à minha boca aberta e deitou-me a baixo. Eu não queria que nada acontecesse, no entanto, apesar de ainda não ter acontecido, não posso deixar de pensar no que poderá vir a acontecer.

Mais uma vez o medo voltou à minha pessoa. Parece que entrou em mim quando ouvi aquilo que tinha para ouvir. Faltava apenas fechar os olhos e pensar profundamente naquilo, naquele específico momento! Porque é que eu não me lembro daquilo que lhe disseram? Porquê???? Não quero que haja nenhuma mal interpretação.

"Quem me dera poder acreditar em ti!". Quem me dera poder saber a realidade e poder ver o que disse e o que fiz de mal, porque nada indica que tenha feito algo de mal. Os registos de conversação estão limpos! Oh meu Deus! Porquê?

Cada vez mais me sinto triste e confuso. O tempo passa... O mesmo tempo diminui... e cada vez mais as coisas acontecem de forma pior. eu só queria algo impossível. Nem vale a pena pedir. Tenho cada vez mais medo da palavra "confiança".

Levem-me deste MUNDO!

sábado, 16 de outubro de 2010

Recordações #1

Era pequeno, mas lembro-me como se fosse hoje. Por volta das vinte e uma horas de um sábado. Tinha três anos quando vi ao vivo um incêndio. Ao pé da escola onde eu fiz o segundo e o terceiro ciclo, ao pé da casa de uma amiga minha.

Aquelas labaredas encarnadas, com um tom laranja e amarelo pelo meio. A cor transformava-se em cada segundo. Quando olhei para aquilo fiquei estático. Não conseguia andar, as mãos que estavam dadas ao meu avô e à minha mãe caíram.

As sirenes estavam cada vez mais perto. Os bombeiros estavam a chegar para apagar uma casa que eu sempre achei que era feita de madeira. Agora ainda está ali à venda, em conjunto com o terreno, mas ninguém a compra.

Mas naquela noite tudo mudou. Passei a entender que existiam coisas más que podiam acontecer às casas das outras pessoas. Hoje quando passo por ali, por vezes, ainda me mete impressão. Reviver aquela noite tão intensa. A última coisa que me lembro é ter começado a chorar, já os bombeiros estavam a tentar apagar o fogo.

Quando quero esquecer,... Ainda mais me vem à cabeça. Continuo confuso :S