segunda-feira, 25 de abril de 2011

Para o Luís e para a João

Corriam lá fora os meses frios de inverno e eu, como de costume, sentado ao computador, lembrei-me de ir meter conversa com o Luís. Bem, quem diria que de uma simples conversa se teria desenvolvido o que se desenvolveu. Nós já tínhamos sido colegas há uns tempos e ele sempre me tinha marcado por ser uma pessoa dedicada aos outros, amiga das outras pessoas e inteligente. Mas o curso de Inglês tinha acabado e pronto, ponto final parágrafo (pensei eu).

No entanto, nada foi assim. E neste último inverno, voltando ao passado recente, reparei que ele não me parecia bem, coisa que tentava ver através da escrita dele. No entanto, não me enganei. Ele andava aos altos e baixos e o que eu podia fazer ela fazer percebê-lo que havia solução para tudo e para todos os males. E assim foi, ele arrebitou até perceber que estava perdidamente apaixonado por uma rapariga. O Luís caracterizava-a como sendo atenciosa, dedicada, carinhosa e simpática, mas acabava sempre por ter ou receio da resposta dela, ou então, faltava-lhe a coragem. Acho que lhe chateei tanto a cabeça que o pobre do rapaz decidiu ir ter com ela e dizer-lhe as coisas todas. E aí começou o que eu chamei de "algo que eu já conhecia de antemão".

E sim, todos aqueles vais e vens, altos e baixos habituais depois da resposta da João tinham sido completamente normais - como tinha dito ao Luís, no entanto, nunca lhe confessei uma coisa muito importante: se ele perder esta etapa e ficar muito tempo em baixo nada feito - sem força de vontade, nada se consegue.

O tempo foi passando até ao ponto de achar que podia fazer algo por eles. (Finalmente alguma intervenção que não desastrosa!). E conheci a João. O Luís tinha razão em relação ao que dizia e acabei por aplicar neles o que tinha aprendido na escola e na escola da vida. A Psicologia dá muito jeito especialmente para estes casos!

A João estava confusa e eu pouco ou nada podia fazer: mal a conhecia e não podia fazer nada sem ter a mínima consciência de que o objetivo final era eles ficarem juntos. Consegui apanhar algo que me interessou bastante: Frases controversas!

E por aí peguei, armando-me em Psicólogo, tentei levar a bom porto a João, fazendo sempre o esforço de manter o Luís naquela de "não desistas, vá lá, só mais um bocadinho...". Após alguns dias consegui! Não fazia mais sentido aqueles dois estarem tão empolgados um com o outro e não desenvolverem nada entre eles: já pareciam dois parvinhos que não olhavam um para o outro, mas que se amavam perdidamente!

Fazia-me sentido na cabeça e ao que parece na daqueles dois também a utilização das férias da Páscoa para solucionarem a questão que perdurava. E assim foi, aqueles dois ficaram felizes. Ele, já sem medo das novidades. Agora o que ele deseja é partir à descoberta do mundo novo que lhe apareceu à frente. E ela a viver na felicidade, sem medos à mostra, apenas com um único receio - não querer minimamente fazê-lo triste.

Como já disse terminei a minha intervenção convosco e não me interponho mais, a não ser que me peçam vocês! Foram tempos importantes aqueles que passei com o Luís e com a João, mas, para não cair em saco roto, temos todos de ter a perfeita consciência do fim. E ele, aqui está!

Sejam felizes, porque o merecem...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

No meio dos campos do Além tejo

Marco saía todos os dias de manhã, com todas as cores na paleta que ele mais gostava: quadrada, enorme, onde conseguia juntar cores até dizer basta. Aquele rapaz pegava na trouxa e caminhava sem rumo até a um ponto qualquer, marcando sempre o chão barrento, de 500 em 500 metros, com um pouco de tinta preta, que ele comprava para esse efeito.
Aqueles campos alentejanos mostravam o esplendor. E Marco, rapaz pintor, cobria todas as suas telas vazias com paisagens verdejantes na primavera, mais amareladas no verão, acastanhadas no outono e imaginava a neve no inverno. Coisa que ele nunca tinha visto.
Em casa dele, um pequeno casebre sem luz elétrica e sem água canalizada, expunha numa parede todos os quadros e parecendo ou não coincidência, todos eles mostravam ser a continuação dos anteriores.
Ele à tarde, deixava uma segunda marca no local onde estava a pintar e regressava de novo ao casebre, para ir guardar o gado, seguia em direção ao norte todas as 3.ªs e 5.ªs feiras e em direção a este, a Espanha, durante os outros dias. Caminhava em conjunto com o gado por estradas alcatroadas, mas com pouco tráfego automóvel. Os sinos das ovelhas tilintavam constantemente e Marco adorava ouvir aquele som. As ovelhas eram o ganha pão dele: quando as conseguia vender, conseguia dinheiro para comprar novas tintas para pintar e por sua vez, duas vezes por ano acabava por tentar vender aquilo que ele pintava.
Certo dia, a maioria das suas ovelhas foram atropeladas na estradas alcatroada em direção a Espanha, enquanto o rapaz pintor estava a urinar atrás de uma árvore. Ele tinha deixado de as ver durante um minuto e durante tal tempo zás! Apenas tinham restado 2 ovelhas.
Marco saiu daquele local rapidamente, fugindo. Ele não conseguia olhar para tanto sangue que ali existia e quando chegou a casa, com as duas ovelhas já com ar de mais mortas do que com vontade de viver, pediu aos céus para iluminarem o seu caminho daí em diante.
Sem ovelhas o pintor não poderia expor no inverno os seus quadros e as paisagens que ele pintou a partir desse momento eram frias, com as tintas mais baratas: na loja onde ele comprava as tintas, o preto e o branco tinham o mesmo preto, eram as cores mais baratas; depois seguiam-se as cores mais frias e por fim, as mais caras eram as cores quentes.
Com o pé de meia que Marco tinha apenas conseguia comprar cores frias e muito de vez em quando. Pouco tempo depois da morte das ovelhas, as paisagens dos quadros dele tornaram-se frias, com o céu cinzento, prados azuis, searas brancas. Não existia a realidade naquela cabeça. Ele tinha distorcido por completo a impressão do que via, imaginando o seu mundo, onde ele era o culpado pela morte das ovelhas.
Não existiram com prazer, exposições de quadros junto ao Natal, não houve muito mais dinheiro para as cores quentes e Marco entrou num mundo completamente dele, tomando conta das duas ovelhas junto dele, seguindo agora sempre o mesmo caminho para pintar todos os dias.
Com vontade de mudar, mas sem posses, o pequeno pintor sucumbiu ao que tinha para poder viver, mais ou menos feliz, o resto da sua vida.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

TPC de Matemática

Sempre gostei de Matemática desde pequeno. Brincava com os número e aprendi a contar cedo. Contas, números ordinais, números cardinais, numa 1.ª fase. Depois os números romanos e as tabuadas, os fracionários, os negativos. Por fim já aparecem números com vírgulas e raízes e ainda incógnitas e agora números imaginários.

A Matemática apresenta inúmeros trabalhos de casa desde cedo até ao final do 12.º ano, pelo menos… Mas o facto de um trabalho de casa poder mudar o rumo de uma vida é algo que é muito raro acontecer, mas deu-se.

Naquele domingo de início de ano letivo, eu não me lembrava do trabalho de casa de matemática acerca dos volumes: parte que sempre gostei e adorei.

Eu peguei no pequeno conhecimento que tinha dos meus novos colegas e perguntei o que era o TPC. Se eu não o tivesse feito tinha tido uma vida diferente. Será que era mais feliz? Ou mais triste? Será que me tinha conseguido tornar um pouco mais independente do que sou? Será que tinha crescido como cresci?

Há alturas do dia em que não me arrependo tremendamente de tal pergunta que fiz há quase três anos. No entanto, há outras alturas em que pensar na origem de “tudo” mostra-me o que eu não deveria ter feito.

Se calhar fiz uma má escolha, ou então fiz bem porque acabei por aprender…