Tic tac, Estávamos em Novembro e ele decide ir ao médico. Teve demasiadas dores de cabeça, mas sempre as escondeu de Adriana. Apenas lhe dizia que estava tudo bem. Num tal dia, Daniel falta às aulas e vai às escondidas ao médico. Ao fazer o exame, é-lhe detectado algo grave. Não sabendo o que é, pede ao médico para ir a casa, para depois regressar ao hospital para o internamento. No entanto, o médico diz-lhe que Daniel vai ser internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e não aqui.
Daniel, ao saber disso, apressa-se em ir a casa, põe as roupas na mala e decide escrever algo para Adriana:
"Olá!
Eu sei que durante estes últimos dois meses nos temos afastado cada vez. É certo que ultimamente nos reaproximamos, porém escondi-te que vinha ao médico. Algo de grave se passa comigo, nem sei bem o que é! Fui internado em St.ª Maria, e não sei o que me vão fazer. Por favor, vem ter comigo, dá-me o teu carinho, porque eu em ele, não sou o mesmo a viver, não tenho aquela alegria, que tinha, continuo-me, por vezes, a sentir-me culpado de tudo o que passou.
Não tenho mais tempo para falar. O barco, o metro e o hospital esperam por mim. Infelizmente, não vou ter um dos meus sonhos realizados, mas sei que estou entregue em boas mãos.
Beijnhos Adriana, até ao dia que me fores visitar."
Assim, Daniel, o fez. Pediu na enfermaria de Neurologia, um quarto individual. Não esperava qualquer visita, Adriana era a única família que ele tinha.
Quando ela chega a casa, não vê Daniel, não ente o cheiro do bom jantar feito. Vai ao quarto e repara no bilhete que está em cima da mesa de cabeceira e lê-a. Após a atenta leitura, deixa-a no chão e não se apercebe que aquela carta é a realidade. Pensa assim, que a face brincadeira de Daniel podia ter querido dar um ar da sua graça.
A noite passa para ambos. Um, a soro, para outro, uma noite descansada na cama. De manhã, no dia seguinte, Adriana continuava a não ter o pequeno-almoço pronto, e percebe que aquela carta era real. Veste-se, num ápside, e põe-se no barco, a caminho de Lisboa. No momento em que chega ao hospital e à enfermaria correcta, a resposta que lhe é dada, quando pergunta por Daniel é que ele já havia sido levado para o bloco operatório. Ela apressa-se e tenta apanhar o elevador, junto à maca dele. Pensa, assim, durante as dez horas que passa à porta do bloco operatório, no que tinha feito, de bem e de mal ao Daniel. Após esse tempo, vê uma das tantas camas a saírem da sala de operações. Não o reconhece, mas ao perguntar se aquela pessoa era o Daniel e se era de Neurologia, ficou tudo esclarecido.
Chegam ao quarto dele e o médico apressa-se para informar a acompanhante do que se passou. Depois de Adriana ter ouvido tudo, martiriza-se pelo que Daniel está ali a passar naquela cama. Para ela, tinha sido a culpada de tudo. Ele, ainda com uma ligeira sedação, diz-lhe que ela não foi culpada de nada. Em seguida, abraça Daniel, demonstrando o carinho que lhe faltava, durante todos estes meses. Daniel, espantosamente, estende o braço para a mesa de cabeceira e pede a Adriana para ler a carta que ali estava. Após a leitura, Adriana deixa cair a carta e chora.... Parece que fica imobilizada...