sábado, 15 de setembro de 2012

O tempo e os relógios...

No meio das minhas forças e dos meus alívios, tirei o meu relógio azul com zonas verdes do meu pulso esquerdo. E fiquei a olhar para ele, um, dois, três minutos. O ponteiro verdinho, o maior deles todos, ia passando e ia fazendo o seu barulho habitual, tic tac, tic tac, tic tac, tic tac... E eu pensei..... Sim, o som do tempo é entristecedor e irritante.

De repente coloco o meu amigo relógio no chão e olho ao meu redor.... um outro relógio marcava exatamente a mesma hora e os mesmos minutos do que o meu relógio de pulso. Este outro, um relógio azul, com algum cinzento à volta chamou-me particularmente à atenção... O seu ponteiro dos segundos era vermelho e nunca o vi andar para trás. E o meu olhar começou-se a desviar para a direita, onde encontrei o meu pincel da barba, o meu perfume, o meu vaso de flores e o meu sabonete líquido e eles fizeram-me lembrar das horas de hoje de manhã, do momento em que o pincel da barba estava sujo de espuma, o meu frasco de perfume estava intacto, o meu vaso de flores não estava em casa e ainda o meu sabonete líquido estava completo. Enfim, a lembrar-me do passado, mas em tempos diferentes....

E se os relógios andassem para trás? Em vez de contarem o tempo da esquerda para a direita, se o fizessem da direita para a esquerda.... Faz-me isto lembrar de uma parte do filme de "O Estranho Caso de Benjamin Button", o ser humano que nasceu idoso e morreu bebé... Onde alguém conceituado tinha construído um relógio que contava o tempo para a esquerda e não para a direita, dando a ilusão de que o tempo poderia vir a voltar para trás... Enfim, mas será que o tempo poderia voltar para trás? Como seria se nós nos víssemos a fazer algo que já tínhamos feito? 

Ali, naquele espaço, onde a luz artificial irradiava toda a divisão, levei a minha mente ao passado. Baixei a cabeça, fechei os meus olhos e comecei a regredir... Comecei a olhar para o meu passado, para as minhas memórias, para as minhas recordações... E aí, de olhos fechados e com a respiração mais pesada, senti-me integrado noutro mundo, noutro lugar, todo ele diferente do que é atualmente a minha cidade, o meu planeta, a minha vida. Não vi nenhum castelo.... Vi um rio. Um mar, uma praia. Vi o horizonte, vi o limiar do poder humano. Senti que estava a descarregar as minhas energias. Respirei fundo e abri os olhos, até que senti algo que me fez balancear o corpo, para a frente e para trás, para trás e para frente, cada vez com mais velocidade, fazendo com que pensasse que o tempo tinha voltado para trás, numa tentativa de me poder redimir de ações e de poder prevenir outras. E a minha respiração continuava ofegante. Não conseguia ver o tempo a passar, já não tinha visão para isso. Estava já repleto mais uma vez de memórias, de sentimentos antigos que se perpetuaram até à realidade e um último muito importante... quando parei lembrei-me que eu adorava datas e não me esquecia de nenhuma. Agora já não sou assim. A minha existência humana fez com que eu mudasse, me transformasse, me habituasse a viver num novo ambiente, numa nova fase da minha vida.

Com todo o passado a encher a minha cabeça, fechei mais uma vez os olhos e recordo gritos, recordo dor, recordo que não há silêncio. Recordo tristeza, recordo sangue, recordo facas, recordo canivetes, recordo o sentimento da morte. Recordo o meu choro. Recordo a minha sensação de perda. Recordo com o meu medo. O meu medo. O meu medo. O meu medo. 

Recordo o meu medo particularmente porque ele fez com que eu mudasse de rumo. Fez com que eu vivesse muito mais preocupado agora do que no passado, ensinou-me que não podia ser assim como eu vivia que poderia crescer e tornar-me Homem, sim homem com H grande, com ferros na base! Enrosco-me sobre mim próprio e penso.... para que serve o passado se nos faz sentir mal? Para que serve estarmos tristes, se apenas isso nos vai fazer estar mais tristes quando nos lembramos que já estivemos tristes. E de repente sinto uma chapada de alguém na cara.... Uma, duas, três vezes.... Uma, duas, três vezes... E fico no chão, de repente inconsciente. Ao acordar, horas depois não me recordo de nada, nem do tempo, porque deixei de agarrar-me a ele para viver, deixei de ter necessidade de o fazer, porque quero viver o meu dia a dia como posso. Quero fazer tudo! Quero poder crescer mais e mais e mais hoje. Para mim o dia não tem vinte e quatro horas. O dia tem a duração da minha vida, dos meus afazeres, dos meus beijos, dos meus abraços, dos meus sentimentos..... Dos meus sorrisos, dos meus desejos, das minhas pretensões, ou seja, de mim... fazendo tudo girar à minha volta. E então pergunto, para quê relógios? Para quê o tempo? Para quê a vida?

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